Summary
Violência obstétrica é "aquela que, sem consentimento livre, prévio e informado, no âmbito da definição da Organização Mundial da Saúde, é sofrida por mulheres durante a gravidez ou parto ao receber abuso físico, humilhação e abuso verbal, ou procedimentos médicos coercitivos ou não consensuais”. A literatura científica indica que mulheres que sofreram violência obstétrica precisam de suporte adicional para continuar com sua decisão de amamentar, e a experiência de um parto traumático pode ter mudado a decisão da mãe de amamentar...
#25N2022
Publicado por APILAM – Asociación para la Promoción e Investigación Científica y Cultural de la Lactancia Materna em 25 de novembro de 2022
Artigo de Desirée Mena Tudela, professora da Universitat Jaume I, associada de APILAM e do Observatório de Violência Obstétrica. Tradução livre de Marcus Renato de Carvalho para o portal aleitamento.com
A violência obstétrica tem sido definida de várias maneiras. Talvez uma das últimas definições que conhecemos seja aquela que Les Corts Valencianes forneceu. Segundo Les Corts, a violência obstétrica é
“aquela que, sem consentimento livre, prévio e informado, no âmbito da definição da Organização Mundial da Saúde, é sofrida por mulheres durante a gravidez ou parto ao receber abuso físico, humilhação e abuso verbal, ou procedimentos médicos coercitivos ou não consensuais” [1].
Sabemos que respaldar esse tipo de violência na lei é um desafio político. Desta forma, a partir deste humilde artigo, agradecemos.
Além disso, deve-se levar em consideração que a revisão da literatura mostra que a vivência de um evento traumático durante o parto influência nos resultados da amamentação [2], e que a prática da amamentação pode ser vivenciada como uma dicotomia em que o aleitamento materno pode ser considerado um fardo e um lembrete constante do trauma; ou, pode ser vivida como uma experiência redentora de cura e reconciliação, com o corpo e com o recém-nascido [3]. Embora a maioria das mulheres que tiveram um parto traumático tenham problemas com a amamentação [4]. Assim, a literatura científica também indica que mulheres que sofreram violência obstétrica precisam de suporte adicional para continuar com sua decisão de amamentar [2]. Durante a pandemia de SARS-CoV-2, foi demonstrado que a experiência de um parto traumático pode ter mudado a decisão da mãe de amamentar [5].
Por outro lado, é preciso destacar que o aleitamento materno é pouco considerado como um direito sexual e reprodutivo e, fundamentalmente, esquecido pela perspectiva de gênero na literatura científica, portanto, urge continuar destacando-o. Assim, em relação à violência obstétrica, deve-se destacar que, apesar de a amamentação fazer parte da vida reprodutiva da mulher, ela não é contemplada nas investigações e revisões posteriores que têm sido realizadas sobre esse importante problema [6–8].
Não dicotomizar a saúde sexual e reprodutiva das mulheres integrando a amamentação com conceito violência obstétrica é muito necessário: nas pesquisas e na legislação. Tão necessário quanto tornar visível a violência obstétrica e abandonar o exercício da normalização.
16 DIAS DE ATIVISMO PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA ÀS MULHERES! CHEGA!
Em 1991 foi criada a campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, que ocorre em mais de 130 países, com o objetivo de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres.
Agressão, humilhação, perseguição, estupro, intimidação, manipulação, assédio, insulto, chantagem, calúnia, coação, difamação e retenção ou subtração de documentos, valores e bens pessoais são algumas das formas de violentar e subjugar as mulheres.
Violência obstétrica, é uma das muitas agressões sofridas pelas mulheres
A violência obstétrica é aquela que acontece no momento da gestação, parto, nascimento e/ou pós-parto, inclusive no atendimento ao abortamento. Pode ser física, psicológica, verbal, simbólica e/ou sexual, além de negligência, discriminação e/ou condutas excessivas ou desnecessárias ou desaconselhadas, muitas vezes prejudiciais e sem embasamento em evidências científicas. Essas práticas submetem mulheres a normas e rotinas rígidas e muitas vezes desnecessárias, que não respeitam os seus corpos e os seus ritmos naturais e as impedem de exercer seu protagonismo.
Exemplos:
– Lavagem intestinal e restrição de dieta
– Ameaças, gritos, chacotas, piadas etc.
– Omissão de informações, desconsideração dos padrões e valores culturais das gestantes e parturientes e divulgação pública de informações que possam insultar a mulher
– Não permitir acompanhante que a gestante escolher
– Não receber alívio da dor
Caso a mulher sofra violência obstétrica, ela pode denunciar no próprio estabelecimento ou secretaria municipal/estadual/distrital; nos conselhos de classe (CRM quando por parte de profissional médico, COREN quando por enfermeiro ou técnico de enfermagem) e pelo 180 ou Disque Saúde – 136.
Estamos com a ReHuNa – Rede de Humanização do Parto e Nascimento nessa campanha: #EstaEmSuasMaos
Referências:
1. Comunitat Valenciana. Ley 7/2021, de 29 de Diciembre, de Medidas Fiscales,
de Gestión Administrativa y Financiera y de Organización de La Generalitat
2022.; 2022. https://www.boe.es/boe/dias/2022/01/22/pdfs/BOE-A-2022-
1018.pdf.
2. Beck CT. Middle Range Theory of Traumatic Childbirth : The Ever-Widening
Ripple Effect. Glob Qual Nurs Res. 2015;2. doi:10.1177/2333393615575313
3. Beck CT, Watson S. Impact of Birth Trauma on Breast-feeding. Nurs Res.
2008;57(4):228-236.
4. Coates R, Ayers S, de Visser R. Women’s experiences of postnatal distress: A
qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014;14(1):1-14.
doi:10.1186/1471-2393-14-359
5. Diamond RM, Colaianni A. The impact of perinatal healthcare changes on birth
trauma during COVID-19. Women and Birth. 2022;35(5):503-510.
doi:10.1016/j.wombi.2021.12.003
6. Jardim DMB, Modena CM. Obstetric violence in the daily routine of care and its
characteristics. Rev Lat Am Enfermagem. 2018;26:e3069. doi:10.1590/1518-
8345.2450.3069
7. Khalil M, Carasso KB, Kabakian-khasholian T. Exposing Obstetric Violence in
the Eastern Mediterranean Region: A Review of Women ’ s Narratives of
Disrespect and Abuse in Childbirth. Front Glob Women’s Heal.
2022;3(April):850796. doi:10.3389/fgwh.2022.850796
8. Bohren MA, Mehrtash H, Fawole B, et al. How women are treated during facility-
based childbirth in four countries: a cross-sectional study with labour
observations and community-based surveys. Lancet. 2019;394(12210):1750-
1763. doi:10.1016/S0140-6736(19)31992-0