A educação nutricional infantil baseada no exemplo da família
Traduzido e adaptado por Débora Marques, Nutricionista da Empresa Alimentando Metas
Passado o momento inicial da introdução da alimentação complementar, a fase que se estende até o final da infância, merece uma atenção especial, uma vez que a criança passa a participar das refeições em família, além de começar a ser atraída por propagandas da indústria alimentícia. A alimentação nesta fase requer cuidados relacionados principalmente à apresentação visual e formatos atrativos, cores, consistências, porções adequadas à capacidade gástrica restrita e ao ambiente onde serão realizadas as refeições e, é a partir desse momento que, o exemplo dado pelos pais e cuidadores passa a ter um peso muito importante.
Os efeitos benéficos ou prejudiciais da dieta sobre a saúde da criança aparecem, na maioria das vezes, a longo prazo, como o desenvolvimento de doenças crônicas e, por isso, as estratégias de educação nutricional também devem ser de longo prazo. Muitos especialistas concordam que ter em casa alimentos saudáveis, é apenas uma etapa do processo educativo, ou seja, a responsabilidade dos pais e cuidadores não termina por aí. É preciso ainda, dar bons exemplos para a criança, como citado no artigo “Educação nutricional para crianças baseada no exemplo dos pais”.
O portal Science Daily publicou em maio de 2012, o relatório “Tenha uma alimentação saudável, para que seus filhos vejam“, que falava sobre os resultados de um estudo que sugere que, mães ao adotarem hábitos alimentares saudáveis, pode influenciar uma dieta saudável na infância. A pesquisa, coordenada pelo Dr. Megumi Murashima e publicado no American Journal of Clinical Nutrition, também descobriu que é útil para encorajar a criança a comer de forma saudável, mas sem usar a força, recompensas ou punições. Impor mudanças pode gerar um sentimento ruim e de repulsa nas crianças em relação ao momento da refeição. O mesmo portal, também entrevistou o Dr. Sharon Hoerr, co-autor do estudo e professor de Ciência dos Alimentos e Nutrição Humana da Universidade de Michigan (EUA), que afirmou que os pais e cuidadores devem parar de forçar ou restringir a oferta às crianças e devem adotar hábitos alimentares saudáveis evitando, iclusive, levar para casa alimentos não saudáveis.
Pesquisas recentes reforçam os pontos de vista de Hoerr. A Academia de Nutrição e Dietética, a maior organização norte-americana de profissionais de nutrição, por exemplo, acredita que o modelo de consumo dos pais afeta as crianças e ressalta que o papel dos pais e cuidadores sobre a alimentação é oferecer oportunidades, apoio e incentivo para uma alimentação adequada, sem coagir para que a criança coma. As crianças são responsáveis por determinar se deve ou não comer e o quanto eles vão comer, entre o que é oferecido. Isso está descrito no documento Nutrition Guidance for Healthy Children Ages 2 to 11 Years (Guia nutricional para crianças saudáveis entre 2 e 11), que pode ser encontrada na edição de agosto de 2014 da Revista da Academia de Nutrição e Dietética.
Outro aspecto importante ressaltado por pesquisadores é o papel do ambiente familiar no crescimento físico e intelectual da criança, que pode interferir no seu padrão alimentar, algo particularmente importante em crianças em risco de obesidade, ou seja, manter um ambiente doméstico ruim pode ser perigoso para a saúde das crianças. Uma pesquisa coordenada pelo Dr. Emma Haycraft – do Centro de Pesquisa Transtornos Alimentares da Universidade de Loughborough no Reino Unido – avaliou a associação entre a qualidade dos relacionamentos de 156 casais e a comida de seus filhos. O trabalho, publicado na revista Maternal & child nutrition em julho de 2010, sugere que um relacionamento mais frio e hostil pode estar associado ao aumento da restrição alimentar e comportamentos alimentares piores em crianças.
É possível que um ambiente mais agradável consiga gerar uma alimentação mais saudável para pais e cuidadores, e, com isso, proporcionar uma melhor alimentação para seus filhos, através de bons exemplos. Esse ambiente pode contribuir para despertar nas crianças um maior desejo por uma alimentação mais saudável. É provável ainda, que a maneira que os pais abordam a alimentação das crianças, reflita o clima emocional que existe na casa. Ou seja, faz sentido olhar a relação uns com os outros dentro do ambiente familiar.
Sendo assim, tanto o exemplo de pais e cuidadores, como o clima na casa das crianças pode influenciar não só a sua socialização, sua auto-estima ou a felicidade, mas também em seus hábitos alimentares.
Algumas dicas em relação à apresentação da alimentação podem ser úteis:
A apresentação visual do prato é o primeiro contato que a criança terá com o alimento e, portanto, interfere na aceitação e formação de hábitos alimentares. Por exemplo, criar formas e desenhos relacionados ao seu cotidiano, irá despertar o interesse da criança em provar aquele alimento.
As cores tem influência direta no centro de regulação da fome e saciedade. Alimentos de cores quentes, como amarelo, laranja e vermelho estimulam o consumo alimentar, enquanto àqueles azuis, roxos e pretos causam repulsa. Sendo assim, é interessante que cada refeição contenha pelo menos um alimento estimulador do centro da fome. Além disso, o uso de louça branca destaca o alimento deixando-o mais atrativo.
Exemplos de alimentos estimuladores da fome:
• Amarelos – laranja, pêssego, batatas, milho, massas
• Laranjas – mamão, abóbora, cenoura
• Vermelhos – tomate, morango, melancia, goiaba vermelha
Em relação à consistência é importante que se respeitar ao máximo a textura natural do alimento, já que nossa memória sensorial tende a rejeitar àqueles alimentos que não fazem o seu ruído padrão, identificando-os como velhos e impróprios para o consumo. Um bom exemplo nesse sentido é o biscoito que, quando perde a sua crocância, já não agrada tanto. Porém, a ideia de oferecer o mesmo de diversas formas, apresentações e texturas, pode ser uma estratégia para que a criança aceite provar um alimento. O que deve ser evitado é o alimento escondido em preparações ou sempre na textura liquidificada.
As porções diárias recomendadas visam atender às necessidades nutricionais de cada faixa etária tanto em relação aos macronutrientes (carboidrato, proteína e gorduras) responsáveis pelo fornecimento de energia e aos micronutrientes (vitaminas e minerais) que participam da regulação do organismo. A limitação nesta fase é em relação à capacidade gástrica restrita da criança. O estômago pequeno é mais um motivo pra que a criança não passe muito tempo sem se alimentar. Manter o fracionamento e intervalos médios de 3 horas, irá proporcionar pelo menos 3 grandes refeições (café da manhã, almoço e jantar) e 3 lanches intermediários (colação, lanche e ceia) ao dia.
Levar a criança à feira, ao supermercado, pedir ajuda para escolher alimentos saudáveis, convidar para participar do preparo de algumas receitas, sentar a mesa e dar o exemplo são estratégias que despertam o interesse, encorajam a provar novos alimentos e aproximam a criança de uma alimentação mais saudável.
Fonte: JULIO BASULTO para Eroski Consumer – “Come sano, tus hijos te observan”