Aconselhando
Pra mãe se sentir confiante
Sente-se com ela, bem perto.
Entenda-a de coração aberto
E elogie as coisas que faz certo!
Aceite o que ela pensa e sente,
Sem discutir essa questão.
Coloque os fatos suavemente
E evite a palavra “Não”.
Deixe que a mãe decida,
Não banque seu comandante,
Ela é dona da própria vida,
Apenas sugira… delicadamente!
Abra para ela a sua agenda,
Diga que volte quando necessitar…
De repente, a mãe que amamenta,
De um novo apoio pode precisar!
Ana Júlia Colameo, Pediatra, Sanitarista, Rede IBFAN
PEDIATRA REFLETE SOBRE SUA PRÁTICA PROFISSIONAL e o “ACONSELHAMENTO”
Tenho chegado a cada dia a uma conclusão a respeito de minhas atitudes comportamentais profissionais:
Preciso fortalecer minhas habilidades para o aconselhamento em amamentação.
Cada vez que me encontro com uma mãe que apresenta dificuldades para amamentar ou entender minhas orientações são essas habilidades que me auxiliam.
As habilidades para o aconselhamento em amamentação funcionam como um instrumento de aproximação entre minhas ideias e a atitude materna favorável.
Executa-las permite a facilitação da aceitação pela mãe da informação adequada e possibilita sua aplicação amigável.
Certamente funciona como um diferencial na pratica profissional em amamentação.
E tem aplicabilidade vária.
Não se restringe ao aleitamento, mas a muitas outras áreas da vida humana e em especial das especialidades da saúde.
E dentro da amamentação pode servir para aproximar o cuidador da mãe aconselhada, mas também pode ser aplicada entre cuidadores que “não falam a mesma língua”.
Quando a gente se depara com uma mãe “que não quer amamentar”, por exemplo, as habilidades em aconselhamento tem grande valor para trazê-la de volta para o aleitamento de forma gentil e acolhedora.
Quando a gente se depara com um colega de trabalho ou um profissional que não apoia o aleitamento, o que deveríamos fazer é usar com ele estas mesmas habilidades aplicáveis à mãe. Os resultados seriam impressionantes.
Teríamos a chance de trazê-lo para a causa que abraçamos ou vê-lo se tornar um simpatizante da verdade que praticamos.
Apesar disso, somos ágeis em estragar essa chance e fazemos isso com a mesma estupidez com que nossas ideias são desprezadas pelos que pensam diferente de nós.
Um colega que prescreve fórmula sem critério, que não se importa em usar tempo para apoiar nutrizes em dificuldades, que indica chupetas “ortodônticas” porque “não causam mal”, que não aceitam o uso do copinho, que não veem vantagem nenhuma na amamentação após o quarto mês de vida e que adora exibir brindes e publicações das industrias do desmame é visto pela maior parte de nós como um mau colega.
Não nos juntamos a ele.
Frequentemente o combatemos, ainda que sem o identificar, em nossos mails e conversas.
Não frequentamos suas amizades e evitamos conversar com ele por muito tempo.
E o rotulamos como “do mal”.
Descrito de forma caricaturizada aqui, geralmente é assim que nos comportamos.
E perdemos a chance única que torná-lo um dos nossos.
Ou um simpático a nós.
Deve haver, na metodologia do aconselhamento, habilidades que se executadas, nos permitam uma aproximação desse colega “não alinhado” com nosso pensamento de modo que, como a mãe que não amamenta, esse profissional não apoiador possa se aproximar como simpatizante ou não combatente de nossas ideias.
Mas que habilidades seriam essas?
Habilidades que poderíamos dividir em dois grandes grupos:
No primeiro deles: saber ouvir e aprender.
E no outro grupo: não desvalorizar a autoconfiança do colega e faze-lo perceber que sua atitude é uma forma de apoio a ele, não de combate.
E como seria isso?
Como parte das habilidades de ouvir e aprender o uso da comunicação não-verbal útil seria a primeira peça. E de que forma isso poderia ser feito? Com um sorriso, demonstração de simpatia, prestando atenção nas coisas que ele fala e sem demonstrar gestos reprovadores. Isso pode deixar o colega as vezes a vontade para dizer o que pensa e expor seus motivos de “não apoiamento” da causa.
Mantendo a postura no mesmo nível e não “superior” do tipo: eu sou amamentólogo e estou te julgando, eu sou “consultor”, “avaliador”, “fiz cursos” e estou aqui pra dizer se você está certo ou errado. Nunca. Sou como você (e somos mesmo) e estou aqui pra ouvir o que você tem a dizer e conversar de igual pra igual e não “papai sabe tudo” x “filho burro”.
Se a gente prestar atenção nas palavras do colega, meio caminho teremos andado. Mas atenção mesmo. Nada de olhar pro relógio ou pro celular. Mas direto pra ele e pras coisas que ele diz. Isso ajuda. E muito.
Remover barreiras, principalmente aquelas que atrapalhariam a conversa (atender telefone ou escrever enquanto ele fala nem pensar) seria uma parte da tática. O resultado é sempre surpreendente.
Gastar tempo na conversa. Isso é fundamental. O amigo deve ter muito a dizer (inclusive das vezes que enfrentou os xiitas da amamentação) e não saberia fazer isso rapidinho. Esqueça seu relógio. A conversa não tem hora pra acabar. E só acaba quando termina.
Fale com ele de forma apropriada. Nem muito alto, nem muito seco, nem muito distante, nem muito baixinho. Fale com ele como se fala com um irmão de quem se gosta, porque é isso que nessa hora ele está sendo pra você.
Experimente, quando fizer perguntas, faze-las de modo aberto: como você acha isso? Como você faz? Porque você prescreve? Porque você não aceita? Isso vai permiti-lo se debulhar nas próprias crenças para você, amigo que o está ouvindo sem metralha-lo como outros já fizeram. E perguntas abertas permitem que ele fale o que pensa, certo?
As vezes você pode repetir o que ele diz usando as mesmas palavras dele: amamentar por 2 anos ou mais? Loucura… E você: loucura ne? Ou: essa coisa de copinho é modismo… E você: modismo ne? Dói muito agir assim? É? Mas é assim que se adquire confiança. A confiança de seu amigo em você que o está escutando e dando atenção sem combatê-lo e até, aparentemente, concordando com ele.
Nessa conversa não se esqueça de usar expressões e gestos que demonstrem interesse nas coisas que ele diz ta? Isso é fundamental.
E sempre que possível demonstre que você entende como ele se sente e porque ele age da forma como age, evitando assim palavras que demonstrem julgamento. Você está ganhando um amigo e isso não tem preço.
Mas é preciso também não desvalorizar a autoconfiança do colega, fazendo-o entender que suas opiniões e praticas são uma forma de apoio a ele, e não de combate.
Então aceite o que ele pensa e sente. Cada um de nós tem seu próprio caminho e não possuímos, ainda que muitas vezes não percebamos isso, autoridade para fazer pouco da verdade de ninguém.
É preciso reconhecer e elogiar os pontos de vista e as atitudes acertadas do colega: os cursos, as leituras, a sinceridade, a competência profissional, a busca do caminho seguro. Curtir brindes da indústria não faz de ninguém um mau caráter. A pontualidade, a prestatividade, o coleguismo, o conhecimento clinico e a prontidão para o trabalho, mesmo em colegas que não apoiam o aleitamento, revelam profissionalismo elogiável. Que valorizar isso seja uma mola para conseguir todo o resto.
Pode-se oferecer, durante a conversa e esclarecimento de uma duvida, ajuda prática através da sugestão de um artigo, um site ou um mail, de modo a confrontar opiniões, aqui tiradas “entre amigos”, ne?
Mas que essa ajuda contenha somente informações básicas. Nada de grandes tratados ou teses. Coisas simples, realmente relevantes.
E sempre com linguagem fácil.
A conversa pode terminar com sugestões, longe de decretos ou determinações.
Evitando o embate frente a frente, a critica que divide e a postura que condena e divide bons e maus, agindo assim caminhamos em direção a uma pratica de aconselhamento entre colegas a que não estamos habituados e cuja responsabilidade pertence a quem conhece a técnica e não ao seu desconhecedor.
E se tudo der errado?
Se tudo der errado?
Treine.
Você acaba aprendendo.
Conviver com contrários é tão difícil que necessita aprendizado.
Um dia você aprende que
“Palavra não foi feita para dividir ninguém.
Palavra é uma ponte onde o amor vai e vem”.
Luis Tavares, Pediatra, Poeta, Neonatologista, Cangurólogo.
2013: Ano Mundial do Aconselhamento em Amamentação.