A mãe prematura
A mãe prematura do bebe prematuro
Nascida antes do que era para ser,
Como quem antecipa o seu futuro,
Como quem torna-se sem perceber…
A mãe prematura do bebe prematuro
E a luta por seu bebê sobreviver…
Às vezes tudo é tão sombrio e escuro…
Tudo tão frio, sem amanhecer…
A longa dor de quem aguarda a cura,
Como quem, sem saber o que, procura,
E assim, nessa procura, se desfaz…
Segura nas mãos de Deus, mãe prematura…
Segura nas mãos de Deus que te segura…
Segura nas mãos de Deus e segue em paz…
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A mãe prematura
A mãe prematura é invariavelmente a mulher que torna-se mãe antes do tempo. Esta antecipação, motivada por desvios da saúde da mãe ou do bebe, gera também invariavelmente riscos para a mãe e para o filho prematuro que nasce. Tornar-se mãe prematuramente quase sempre traduz momentos dramáticos para a mãe e para o filho. Essa maternidade prematura está intimamente ligada a tratamentos em Unidades de Terapia Intensiva e riscos de vida iminente. É necessário, não bastasse o risco, ter vaga disponível para ambos. Encontrando a vaga, ainda assim é urgentemente preciso ter disponível o tratamento indicado.
A mãe prematura é muitas vezes uma adolescente sozinha e sem experiências. A carga de dor e sofrimento que a sua prematuridade e a de seu filho lhe submetem são como uma intensidade de vida imensamente maior do que a suportada pelas pessoas comuns. É isso. A mãe prematura não é uma pessoa comum. É um ícone de superação que a torna um ser especial, não bastasse a maternidade já lhe conferir esse destaque entre as humanas.
Recuperar-se e acompanhar a recuperação de seu pequeno filho que nada se assemelha ao que ela imaginou ver nascer um dia durante toda a gestação interrompida, é sua grande batalha. Vencer culpas e isolamentos familiares. Vencer a falta de instrução e os mitos sociais (será que um bebe desse tamanho vinga?), vencer as dificuldades de recursos clínicos e a impessoalidade e frieza habituais que as instituições de saúde dispensam a seus usuários. Vencer a distancia da casa ao Hospital. Vencer as dificuldades financeiras para estar com seu filho. Vencer a quebra do vinculo. Vencer o que seria invencível se ela não guardasse no seu coração a força quase maior que a força de uma mãe: a força de uma mãe prematura.
Dizia Caetano que em seus podres poderes, os homens avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes. Como boçais. Assim procedem as instituições de saúde de nossa cidade, buscando verbas e recursos para equipamentos enquanto desprezam o vinculo materno infantil proporcionado pelo Método Mãe Canguru que permite às mães estarem com seus filhos oferecendo-lhes amor, calor e leite materno. Nenhuma instituição de saude de nossa cidade o aplica, conquanto existam aqui dezenas de leitos de terapia intensiva neonatal.
Sobreviventes dessa boçalidade, as mães prematuras percebem-se felizes a cada gramo de peso conquistado por seu filho. Cada gesto novo. Cada dia a mais livre do oxigênio é comemorado como grande vitória, digna de um grande premio. Não há detalhes para a mãe prematura e para seu filho. Tudo é milagrosamente grande e impressionante. Cada pequena conquista e cada mínima queda é comparada a um Everest ou a um grande abismo. E é necessariamente dolorosa e real sua relação diária com a morte iminente, com a piora constante, com a perda…
Se só mesmo as mães são felizes, como afirma Cazuza, maior felicidade pertence às mães prematuras e a seu exemplo de vida.
Haverá um dia no mundo alguma tarefa mais nobre que a de cuidar, alimentar e fazer crescer com segurança e alegria a vida de um bebe prematuro. Mas isso é matéria dos Anjos e segredo de Deus que não pertence à vida homens nem a seus dias.
À mãe prematura, nossa veneração e nosso carinho nessa data tão dela.
Luis Alberto Mussa Tavares é Poeta, “Cangurólogo” e Pediatra em Campos dos Goytacazes, RJ
A foto também é dele,
pois fotógrafo também é.