Aos familiares e aos bebês internados
na UTI Neonatal Nicola Albano
Aqui estamos,
De longe viemos…
Um longo e cansativo itinerário…
Foram inúmeras as vezes que choramos,
Foram inúmeras as dores que sofremos,
E, no entanto
Tudo parece ter sido Absolutamente necessário
Para que chegássemos até aqui:
As lágrimas, a aflição, o desespero,
As noites intermináveis sem dormir,
Os descaminhos sem sol por que passamos
E as fraquezas de quase desistir…
Tudo absolutamente necessário
Para que acabássemos por descobrir
Tantas lições de vida, acolhimento,
Amparo, apoio, sustentação,
Solidariedade abrandando o sofrimento,
Perseverança alimentando o coração…
Tudo absolutamente necessário,
E imaginar que imaginávamos o contrário
Quando a nossa vida cuidou de desabar…
Tudo em volta, de repente, sem sentido…
Faltou o chão, de repente, de pisar…
Foram dias inteiros tentando descobrir
E noites sem dormir nem acordar…
Um sofrimento diário
E, no entanto
Parece que absolutamente necessário
Para que mobilizássemos nossas energias
Por dias e dias e dias e dias
E muitas vezes
Até por meses
Entre tomografias e ultra-sonografias,
Entre hipoglicemias e hiperglicemias,
E anemias e arritmias
E outros tantos sinônimos de dor…
Fomos bordando assim nosso calvário
E hoje
Parece que tudo
Foi absolutamente necessário
E nada absolutamente sem valor…
Porque a fraqueza nos fez fortalecidos,
A dor nos desenhou mais resistentes,
As ameaças tornaram-nos mais vivos
E tanta angustia, mais persistentes…
Tocaram-nos o afetos dos queridos:
Esposo, esposa, pais, irmãos, parentes…
Luzes para que não quedássemos perdidos,
Sustento para que não tombássemos descrentes…
E a dor que nos fez tantas vezes tão sozinhos,
Atormentando nossos caminhos,
Fazendo nosso coração passar tão mal,
É a mesma dor, condição transformadora,
Que com sua força renovadora
Nos traz aqui, nesse dia de Natal…
E a mesma dor que nos fez tão diminuídos
É a dor que nos tornou fortalecidos
E nos mostrou o caminho de saída,
E a mesma dor que tentou-nos derrotados
É a dor que nos traz hoje renovados
Valorizando mais que nunca a própria vida…
E a vida como uma dádiva sagrada
É o bem maior que em sua caminhada
Os nossos filhos vão preservando…
Vão resistindo, heróis, a tempestades,
Saindo ilesos de calamidades,
Salvando-se de enormes vendavais…
E a vida como uma graça alcançada
Por cada um deles nessa jornada
É o bem maior que cada um vai conquistando,
Vestidos de esperanças e vontades,
Superando, como heróis, dificuldades,
Conquistando, com sua dor, a própria paz…
Aqui estamos
Foi como se o coração parasse o calendário
E o tempo desistisse de passar…
E, no entanto
Tudo parece ter sido absolutamente necessário
Para que chegássemos
A essa hora
E hoje, a esse dia,
Completa e inteiramente renovados
Dispostos como nunca a continuar…
Crescemos
Com a dor que enfrentamos, amadurecemos,
Amadurecidos, aprendemos a compartilhar
A nossa dor com a dor de toda gente,
E foi isso que nos fez seguir em frente
E nos deu força pra perseverar…
Crescemos
A dor que um dia nos fez sentir pequenos
Foi a mesma que nos ensinou a caminhar…
Uma lição de se aprender diariamente…
Uma lição de durar eternamente…
Um aprendizado que se chama amar…
Amig@s da L-materno@ e da L-canguru@
Encaminho a vocês o poema onde leio sobre as imagens dos bebês que capturo quase diariamente na minha tarefa.
Antes que os amigos se assustem, devo advertir aos que se dispuserem a assisti-lo que há algumas fotos de bebes usando bicos e mamadeiras.
É norma da Unidade e não posso discriminar a vida e a imagem desses bebes justo no momento em que a humanidade comemora o nascimento daquele que nos pediu que amassemos uns aos outro do mesmo modo como fomos amados por ele.
Peço que não se irritem, portanto com essas pequenas borrachinhas.
Neste tempo de Natal elas não maculam esses pequenos anjos mais do que macularia um olhar discriminatório.
Espero que gostem do video-poema.
Foi minha homenagem às mãezinhas e seus lindos filhos.
http://www.youtube.com/watch?v=B16SgxOSprA