“Eu tinha um desejo imenso e quando eu recebi meu filho, me realizei totalmente como mulher”,
revela a dona de casa Olga Lacerda de Carvalho.
Hoje, dona Olga passeia orgulhosa com o filho mais velho. O professor de pediatria Marcus Renato de Carvalho foi um bebê muito desejado.
“Eu acordei para a maternidade e abracei meu filho. Não como se estivesse adotando, mas como se realmente eu o tivesse gerado. Ele nasceu de mim, da minha alma, do meu coração”, diz dona Olga.
Um verdadeiro coração de mãe. Mas durante muito tempo essa adoção foi um segredo.
“Durante 11 anos”, conta Marcus.
“A maioria das adoções realizadas há 30, 40 anos eram ilegais. Adoções à brasileira, em que as pessoas registravam a criança em cartório e não contavam para ninguém. Então, não se falava de adoção. Se sussurrava: “Olha, ele é filho adotivo”. Como se fosse um negócio marginal”, lembra a psicóloga Lídia Weber, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O dia em que revelaram a história de Marcus ficou marcado na memória de dona Olga.
“Eu e meu marido ficávamos sempre jogando um para o outro. Nem eu, nem ele tinha coragem. Então, ele começou a falar. Eu chorava, entrei em uma angústia, em um desespero, porque não sabia a reação que ele teria. Ele se levantou, nos abraçou e falou: Eu amo muito mais vocês agora. Vocês são meus pais. Aquele foi um dia de glória!”, lembra dona Olga.
Marcus cresceu e se formou médico. Só então descobriria outro segredo muito especial.
“Quando eu era estudante de medicina, cheguei em casa muito emocionado contando que estava participando de uma pesquisa sobre indução à lactação ou lactação adotiva. Mães que adotavam poderiam amamentar. E a mamãe caiu em um pranto muito grande. Depois conseguiu falar que, quando ela me pegou, eu ainda era recém-nascido e, escondida de todo mundo, me colocava no seu peito. E eu, pequenininho, mamava. Dentro de alguns dias, começou a sair uma secreção do peito dela e ela, muito assustada, com medo de revelar isso para alguém, parou de fazer essa experiência”, conta Marcus.
“Continuei dando por determinado tempo e depois fiquei com medo, porque estava aumentando. Aí eu parei”, completa dona Olga.
“Agora eu tenho a oportunidade de apoiar outras mães que adotam e querem amamentar. Sem querer, atraí muito isso e já tive oportunidade de, nesses 25 anos de formado, ajudar dezenas de casais a adotarem e mães adotivas a amamentarem seus filhos adotados. A MATERNIDADE é um lugar especial, porque quando nasce um bebê, não nasce só um bebê – nasce uma mãe, um pai, uma família”, conclui Marcus.
É um nascimento que também requer cuidado, atenção. Afinal, do que se alimenta uma família? Os médicos já comprovaram: é com amor que ela pode crescer saudável e com ajuda da natureza, mesmo que o bebê tenha sido gerado por uma outra mulher.
“Hoje não existe uma definição de família. Não existe mais com precisão o que é família. É um casal com filhos? Um casal sem filhos pode ser família? Há pesquisas muito polêmicas e enormes sobre isso. Família é onde a gente se sente bem e onde a gente se sente amado e pode amar aquela pessoa. E pode incluir um monte de gente, mesmo sem ter consangüinidade”, conclui Lídia Weber.
“Para mim, família é tudo!”, resume dona Olga.