HOMENS que CUIDAM dos FILHOS têm
CÉREBRO MODIFICADO
Cuidado nas primeiras semanas do bebê envolvem mudanças cerebrais no pai
PILAR QUIJADA / MADRID – abc.es
Tradução exclusiva para o aleitamento.com por Marcus Renato de Carvalho
Não há dúvida de que o nascimento de um bebê é um dos maiores desafios enfrentados por uma pessoa. E, claro, o cérebro muda para lidar com essa nova situação. É bem estudado como as mudanças ocorrem nas mães, entre outras coisas, elas experimentam um aumento na massa cinzenta nas áreas associadas com cuidados infantis e ativam redes relacionadas com a vigilância, prazer e motivação, de modo que o seu bebê seja bem atendido. E, claro, criam-se novos neurônios no hipocampo, que ajudam a fortalecer os laços com seu filho.
Há menos pesquisas sobre as mudanças no cérebro do pai. No entanto, não há dúvida de que, durante os primeiros dias de vida do bebê, não muda só o cérebro do recém-nascido. Ficar perto de seus filhos e dedicar tempo aos seus cuidados também proporciona benefícios cognitivos para os homens. Como no cérebro materno, se produz um aumento do número de neurônios para lidar com a situação de stress, o que é considerado positivo. E isso tem consequências visíveis: as mudanças de comportamento do pai – ele se torna mais solícito.
Novos pais (os de primeira viagem)
Um novo estudo realizado na Universidade de Tel Aviv publicado na última edição da Revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA) que acompanhou 89 famílias que tinham acabado de ter o primeiro bebê. Eles aproveitaram as mudanças culturais na formação da família para observar o efeito que o recém-nascido produz nos homens, quando envolvidos nos cuidados com os filhos em tempo parcial ou quando se tornam o principal cuidador.
Por isso filmaram 20 famílias heterossexuais em que o cuidado infantil era exercido principalmente pela mãe; 21 em que o pai estava colaborando nos cuidados e outras 48 famílias compostas por dois homens, em que nenhuma mulher estava envolvida no cuidado do bebê, para que pudesse ser considerado um dos pais como cuidador principal.
Os níveis do hormônio ocitocina, que promove os laços entre o bebê e seus pais também foram medidos nos participantes. O cérebro de cada cuidador também foi observado por ressonância magnética quando viam as gravações de vídeo quando eles próprios interagiam com seus bebês.
E o que eles descobriram foi que houve uma ativação diferencial nos cérebros de homens e mulheres quando cuidavam do bebê, que estava relacionado com os níveis de ocitocina e do tempo que passavam com seus bebês.
Nas mães foram ativadas estruturas cerebrais mais primitivas, especialmente subcortical, relacionadas com o processamento de emoções, especialmente a amígdala, que está associada com a maternidade em mamíferos. Estas estruturas começam a mudar já durante a gravidez.
Nos homens que atuavam como cuidadores secundários do bebê, se ativavam uma rede no córtex frontal e temporal, relacionados com as interações sociais e a empatia. Em especial, houve aumento da ativação no sulco temporal superior.
Pai em tempo integral
Mas havia outra surpresa, nos homens que eram os cuidadores primários do bebê, neste caso, formando famílias homo afetivas, a amígdala foi ativada, como ocorre nas mulheres, no sulco temporal superior. Esta última área do cérebro é fundamental nas interações sociais, em particular serve para o olhar e outros sinais sutis que dão pistas de para onde direcionar a atenção para o outro e o que pode esse estar solicitando. E, o mais interessante, a conexão entre essas duas estruturas foi mais forte quanto mais o pai dedicava tempo no cuidado direto do bebê.
Isso sugere, segundo os autores, uma grande plasticidade no cérebro de homens que cuidam de seus filhos para integrar as redes emocionais (mais antigas) e as redes sociais-cognitivas. Assim, alcançam uma maior conexão com o bebê que lhes permite estar mais atento às suas necessidades.
Dois sistemas de cuidado parental
Portanto havia dois conjuntos de cuidados parentais no cérebro, de acordo com o sexo, explicam os pesquisadores da Universidade de Israel. Uma feminino, muito mais antigo evolutivamente, implicado no processamento de emoções, e outro masculino, mais recente na escala evolutiva, que usa estruturas mais novas, localizadas no córtex frontal e temporal do cérebro.
O fato de que mães e pais que estão como cuidadores primários ou principais, sugere que ao longo da evolução criaram rotas alternativas para adaptar sua ativação cerebral para o cuidado das crianças. Assim, embora só as mulheres durante a gravidez, o parto e a amamentação sensibilizam a rede emocional (amígdala) para o atendimento de crianças, homens também podem ativar a amígdala com os cuidados contínuos do bebê no dia.
Pode-se especular que o interesse dos homens com a prole, que só ocorre em 10 % dos mamíferos, poderia ancorar suas raízes em nosso passado como caçadores-coletores. Os homens que ajudaram a transportar as crianças para aliviar as mães em longos trajetos foram depois “recompensados” com mais descendentes, já que sua parceira poderia recuperar as forças e estar mais preparada antes de ter mais filhos.
Father’s brain is sensitive to childcare experiences
Eyal Abrahama
Talma Hendlerbc
Orna Zagoory-Sharona and Ruth Feldmana1Author Affiliations
Edited by Michael I. Posner, University of Oregon, Eugene, OR, and approved May 1, 2014 (received for review February 11, 2014)
Abstract
Brain, oxytocin, and parenting behavior were measured in primary-caregiving mothers, secondary-caregiving fathers, and primary-caregiving homosexual fathers raising infants without maternal involvement. Parenting integrated functioning of two neural networks: subcortical-paralimbic structures implicated in emotional processing and cortical circuits involved in social understanding. Mothers showed greater activation in the emotional processing network and fathers in the socio-cognitive circuits, which were differentially linked with oxytocin and behavior. Primary-caregiving fathers exhibited high amygdala activation similar to mothers, alongside high superior temporal sulcus (STS) activation comparable to fathers, and functional connectivity between amygdala and STS. Among all fathers, time spent in childcare correlated with amygdala-STS connectivity. Findings describe mechanisms of brain malleability with caregiving experiences in human fathers.