BEBÊS Amamentados GANHAM MAIS DINHEIRO QUANDO ADULTOS,
DIZ ESTUDO
A PESQUISA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS MOSTROU QUE A RENDA PODE SER 33% MAIOR DO QUE A DE CRIANÇAS QUE NÃO RECEBERAM LEITE MATERNO
Uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas, com 3,5 mil recém-nascidos, mostra que crianças amamentadas por mais de um ano têm escolaridade 10% superior àquelas que não completaram um mês de alimentação com leite materno. O efeito sobre a renda foi o mesmo. Crianças com maior período de amamentação tornaram-se adultos com renda 33% superior a dos que não receberam leite materno por mais de 30 dias.
O estudo está publicado na edição desta quarta-feira, 18, da revista The Lancet Global Health. “Já sabíamos que a amamentação auxiliava no desenvolvimento da inteligência. Esse trabalho traz as primeiras evidências dos efeitos práticos desse benefício”, afirmou um dos líderes da pesquisa, o professor Cesar Victora. Bernardo Hortas, que divide a coordenação dos trabalhos, reforça. “Havia dúvidas se o efeito da amamentação sobre inteligência e o desenvolvimento cerebral alcançaria a vida adulta. Os resultados dos estudos mostram que sim.
O grupo de pesquisa acompanhou dados de crianças nascidas em 1982 na cidade gaúcha de Pelotas. O banco de dados trazia inicialmente informações de 6 mil participantes. Os voluntários fizeram ao longo dos anos quatro avaliações de grande porte. Na última, com indivíduos já com 30 anos, além de testes de QI, foram incluídas questões sobre renda e escolaridade. Foram avaliados nesta etapa dados de 3.493 participantes. “Tomamos o cuidado de expurgar qualquer fator social que pudesse influenciar nesses resultados”, contou Hortas.
Ele ressaltou que na amostra avaliada o aleitamento materno esteve presente em todas as classes sociais. “Estudos em países desenvolvidos muitas vezes são criticados por não conseguirem separar de forma socioeconômica; nosso estudo faz isso pela primeira vez.”
Os pesquisadores dividiram os voluntários em cinco grupos, de acordo com a duração do aleitamento. “Os resultados indicam que, quanto mais longa a amamentação, melhor a renda, a escolaridade e a inteligência”, apontou Victora. A variação na escala de QI é de três pontos da média.
Os pesquisadores atribuem os resultados a uma combinação de fatores.
Um dos mecanismos que provavelmente exercem grande influência no maior desenvolvimento da inteligência é a presença de ácidos graxos saturados de cadeia longa no leite materno. “É essencial para o desenvolvimento dos neurônios”, disse Hortas. Mas há outros pontos importantes. “O vínculo entre mãe e a criança é fortalecido durante a amamentação. Isso deve ser levado em conta”, completou. Victora apontou também a necessidade de se avaliar o impacto do leite materno na ativação de genes.
Presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria, Luciano Borges Santiago disse que já havia indícios dos benefícios da amamentação para o desenvolvimento intelectual. “Amamentar faz diferença na inteligência. Isso é um dado a mais que vem para fortalecer as vantagens do leite materno.”
Vivência
Fundadora do grupo Matrice, que apoia a amamentação, Fabíola Cassab, de 38 anos, concordou. “Vivi isso com a minha filha e vejo nas outras crianças do grupo. Isso (a pesquisa da universidade) vai encorajar outras mulheres a dar de mamar por mais tempo.” (Colaborou Paula Felix).
Revista Époda – informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age
A prospective birth cohort study from Brazil
The Lancet Global Health, April 2015
Victora CG, Lessa Horta B, Loret de Mola C, Quevedo L, Tavares Pinheiro R, Gigante DP, Gonçalves H, Barros FC
Summary
Background
Breastfeeding has clear short-term benefits, but its long-term consequences on human capital are yet to be established. We aimed to assess whether breastfeeding duration was associated with intelligence quotient (IQ), years of schooling, and income at the age of 30 years, in a setting where no strong social patterning of breastfeeding exists.
Methods
A prospective, population-based birth cohort study of neonates was launched in 1982 in Pelotas, Brazil. Information about breastfeeding was recorded in early childhood. At 30 years of age, we studied the IQ (Wechsler Adult Intelligence Scale, 3rd version), educational attainment, and income of the participants. For the analyses, we used multiple linear regression with adjustment for ten confounding variables and the G-formula.
Findings
From June 4, 2012, to Feb 28, 2013, of the 5914 neonates enrolled, information about IQ and breastfeeding duration was available for 3493 participants. In the crude and adjusted analyses, the durations of total breastfeeding and predominant breastfeeding (breastfeeding as the main form of nutrition with some other foods) were positively associated with IQ, educational attainment, and income. We identified dose-response associations with breastfeeding duration for IQ and educational attainment. In the confounder-adjusted analysis, participants who were breastfed for 12 months or more had higher IQ scores (difference of 3·76 points, 95% CI 2·20–5·33), more years of education (0·91 years, 0·42–1·40), and higher monthly incomes (341·0 Brazilian reals, 93·8–588·3) than did those who were breastfed for less than 1 month. The results of our mediation analysis suggested that IQ was responsible for 72% of the effect on income.
Interpretation
Breastfeeding is associated with improved performance in intelligence tests 30 years later, and might have an important effect in real life, by increasing educational attainment and income in adulthood.
Access on the following link to get a complete version of the document: www.paho.org/nutricionydesarrollo