Amamentação na prevenção à obesidade infantil
Por que o aleitamento correto no início da vida pode evitar que o seu filho se torne uma pessoa acima do peso
Revista CRESCER: Por Suzana Dias – atualizada em 01/04/2014
A obesidade se tornou uma epidemia global e uma ameaça à saúde de quem sofre com os quilos a mais. Além do maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, outros problemas graves, como alguns tipos de câncer, têm relação direta com o excesso de gordura corporal.
“A prevalência da obesidade em crianças e adolescentes vem aumentando nas últimas décadas. Um terço dos pré-escolares e metade dos escolares obesos tornam-se adultos obesos”, alerta Marcus Renato de Carvalho, pediatra, especialista em amamentação e docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFRJ. E mais: de acordo com as conclusões de um trabalho científico conduzido por pediatras da Universidade de São Paulo (USP), 80% das crianças obesas deixaram de ser amamentadas pela mãe antes dos 6 meses.
Juntando essas informações com o dado do IBGE de que uma em cada três crianças brasileiras com idade entre 5 e 9 anos está acima do peso, é assustador tomar conhecimento desse cenário. Por outro lado, é muito bom saber que um gesto tão natural, como o de alimentar seu filho com o leite do peito, pode evitar que ele venha a engrossar essa estatística preocupante, não é mesmo? Várias pesquisas médicas têm apontado para uma verdade:
“A amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida e continuada até os 2 anos ou mais atua como um fator de proteção contra a obesidade infantil”, afirma Carvalho.
Segundo o especialista, um estudo de 2010 observou que para cada mês de retardo na introdução de alimentação complementar (entre os 2 e 6 meses do bebê), o risco de excesso de peso na vida adulta diminui de 6% a 10%. Em outras palavras: quanto mais tempo a mãe amamentar, menor será o risco de obesidade.
Qual a explicação?
O fato de as crianças alimentadas com leite materno terem menos propensão à obesidade parece ser uma consequência de diversos fatores combinados. Veja as conclusões a que chegaram os principais estudos nessa área:
– Nas fases iniciais do crescimento humano – no útero e durante os primeiros meses de vida -, a nutrição e o metabolismo são “moldados” para o resto da vida. É a chamada programação metabólica. Como a natureza é sábia, o leite humano é programado para suprir as necessidades do bebê.
– Outro fator que possivelmente influencia na relação entre amamentação e menor risco de obesidade é a presença do hormônio leptina no leite materno. A leptina age na inibição do apetite e no processamento dos nutrientes pelo metabolismo. Por essa razão, o bebê amamentado no peito aprende melhor a regular a saciedade.
– Existe, ainda, um terceiro motivo. Quando mama na mãe, o bebê interrompe a mamada assim que se sente satisfeito. Já quando o adulto oferece fórmulas infantis, há uma tendência a forçar a criança a esgotar o conteúdo da mamadeira, mesmo que ela não esteja mais com fome. Esse ato pode interferir no mecanismo inato de regulação de calorias ingeridas.
O que você, mãe, pode fazer para ajudar
O início da amamentação, quase sempre, é um processo difícil e estressante. Com certeza, você já ouviu falar disso ou vivenciou a situação. Entretanto, é essencial controlar a ansiedade e superar as dificuldades. Com receio de que o recém-nascido esteja passando fome por ainda não ter conseguido se adaptar ao seio, é comum a mãe complementar a alimentação com chuquinha. Às vezes, ainda na maternidade, isso acontece com autorização do pediatra. “Infelizmente, existe a prática muito recorrente, não só nas maternidades como em muitos consultórios pediátricos, da prescrição precoce da fórmula para que o bebê ganhe peso rapidamente”, constata Simone Tenório de Carvalho, pedagoga, pesquisadora da Unicamp e especialista em amamentação. Entretanto, vale a pena questionar essa conduta e insistir até que o bebê consiga uma boa pega no seio. Pesquisadores americanos verificaram que bebês que ganham muito peso nos quatro primeiros meses de vida – especialmente na primeira semana – são muito mais propensos a se tornar adultos obesos. “A mãe é plenamente capaz de amamentar e nutrir o bebê, que certamente ganhará peso satisfatoriamente”, diz a especialista.
Alimentar-se bem e equilibradamente durante a fase de amamentação também é necessário. O que a mãe come pode, sim, interferir nas preferências e hábitos alimentares do filho e, consequentemente, no seu peso. Aliás, essa influência começa ainda no útero e se prolonga até o término do aleitamento.
“Quanto mais a mãe tiver uma alimentação rica, balanceada e diversificada, maior será o sucesso no momento da introdução alimentar do bebê. A maternidade é um excelente momento para mudar os hábitos alimentares para melhor”, finaliza Simone.