A HUMANIDADE
DIANTE DE SUA
RELAÇÃO COM A
AMAMENTAÇÃO:
NATURAL x CULTURAL x
INATO
Este se trata de um estudo em que o objetivo é destacar informações sobre a relação da humanidade com a amamentação, identificando a importância das ações profissionais em relação ao fator inato e cultural desta prática.
A história da humanidade mostra que o fator cultural está associado aos fatores natural e inato em relação à prática da amamentação. Muitas vezes, os conhecimentos em relação aos benefícios e vantagens da amamentação são sobrepostos pelas informações recebidas culturalmente.
Inúmeros esforços vêm sendo aplicados à sociedade desde os anos 70 na intenção de mudança dos índices da prática de aleitamento materno, mas ainda é necessário que aqueles que possuem a tarefa de auxiliar nesta mudança compreendam que amamentar vai muito além do fato de um bebê receber leite materno. Passa pelo respeito às crenças e valores de cada indivíduo, considerando seus saberes e desmistificando a idéia de que a amamentação é inata. Quando ocorre a compreensão do natural, inato e cultural, permeáveis uns aos outros, o profissional se torna capaz de expandir sua atenção atingindo seus objetivos de forma mais eficiente.
A amamentação é um ato natural vivenciado pela humanidade, porém poderá ele ser considerado como um ato inato?
Diante deste questionamento, o conhecimento da natureza deste ato é essencial para o desenvolvimento de práticas profissionais frente ao aleitamento materno. Muitos acreditam ser este, um ato que todo binômio mãe / bebê tem a possibilidade de desempenhar de forma correta e adequada por trazer em sua carga natural congênita toda a habilidade para tal. Este pode ser um dos primeiros enganos cometidos pelos profissionais designados ao apoio deste binômio.
Na história da amamentação desde os primórdios encontramos referências de mães que amamentaram seus filhos. Hera, rainha dos deuses, esposa de Zeus que alimentava o universo, Maria mãe de Jesus que deu o peito ao seu filho divino, o que pode ser considerado como prova de Sua existência humana. Com a evolução dos tempos observa-se que esta prática foi sendo modificada. Na antiguidade os filhos eram designados a ser amamentados por escravas ou serventes e muitas vezes mantidos distantes do seio familiar.
Idéias advindas do século XIX reduzem a prática da amamentação em um ato natural, comum aos mamíferos, fortalecendo pensamentos de que amamentar é instintivo, próprio do ser humano, portanto inato, sem levar em consideração todas as inferências e interferências do meio.
Neste trabalho há tópicos em que conceitos, composição, vantagens, barreiras e interferências relacionadas ao aleitamento materno são descritos.
Na Bíblia Sagrada há relatos sobre o comportamento da utilização de amas entre os egípcios e hebreus para garantir a sobrevivência das crianças que eram afastadas de suas mães e citação
Entre os séculos XIII e XVII, iniciou-se a publicação de livros e alguns autores acreditavam que a saúde da nutriz e suas características influenciavam a saúde do bebê devendo ser substituída por outra mulher quando adoecesse. Suas orientações eram em favor da amamentação, porém não valorizavam o colostro.
O primeiro embate cultural no Brasil aconteceu com a chegada dos portugueses que acreditavam ser um comportamento instintivo e natural, não cabível ao homem civilizado de cultura européia.
A modernidade trouxe também um maior número de “mães solteiras” e no final do século XVIII eram obrigadas pela miséria a cumprir o resguardo dentro dos hospitais, e, então eram convidadas a amamentar as crianças abandonadas favorecendo a transmissão de doenças contagiosas.
Nos séculos XVI e XVII a amamentação era mais comum entre mães protestantes do que católicas porque a Igreja Católica proibia as relações sexuais enquanto as mães estivessem amamentando. (BADINTER, 1985)
A valorização do colostro começou a aparecer através de Cadogan em 1748, que referenciou a propriedade purgativa favorecendo a eliminação do mecônio e em seguida a influência sobre o poder preventivo de doenças infantis e até maternas.
Com a revolução pasteuriana, o leite materno é reconhecido como alimento protetor e mesmo que não seja oferecido diretamente do peito, deve ser através da mamadeira.
Entre os anos de 1920 e
A chegada do leite condensado e a farinha láctea no Brasil, importados da Suíça, com o leite industrializado e a mamadeira passaram a ser uma alternativa terapêutica à idéia do leite fraco. A utilização desta prática permitiu a institucionalização do desmame precoce como uma ação sociocultural protegido pela própria medicina.
As mamadeiras de vidro e os bicos de borracha foram patenteados em 1845 e as indústrias passaram a promover o leite evaporado. Nesta ocasião, com interesse financeiro combinado com a queda de natalidade após a Segunda Guerra, foi iniciada uma maciça promoção dos substitutos do leite materno.
Na década de 60 houve queda de natalidade em função do acesso à pílula anticoncepcional através do movimento feminista e os seios passam a ter uma conotação sexual e estética minimizando a sua ação funcional.
A partir de 70, iniciou-se um movimento mundial para a volta da promoção à amamentação e desde então avanços nos estudos realizados tem auxiliado os conhecimentos em torno do leite materno, seus potenciais e os benefícios da amamentação.
Quando nos deparamos com a amamentação ao longo da história da humanidade podemos observar que existe uma co-relação entre os fatores inatos ao ser humano, fatores naturais referentes à sua existência e fatores aprendidos ao longo de sua vida que são transmitidos de geração em geração de acordo com os valores de sua comunidade.
Muitas vezes ao se deparar com a informação de que a amamentação não é inata, profissionais se surpreendem e questionam a informação por confundirem o ato de amamentar com a presença dos reflexos estomatognáticos já desenvolvidos no bebê durante a vida intra uterina.
Amamentar não é uma prática simples e única, é o resultado da influência de diversos fatores, é uma prática a ser aprendida.
Para que o profissional possa ofertar o acolhimento ao binômio mãe / bebê e sua família de forma efetiva, ampla e global é necessário que esteja imbuído de um saber que respeita aquilo que todo ser traz consigo, suas crenças e valores.
A natureza, a cultura e a carga congênita muitas vezes se fundem impossibilitado delimitar onde começa e onde termina cada um deles. Diante desta mescla de fatores cabe ao profissional compreender que o resultado do seu atendimento está intimamente ligado ao seu próprio referencial, que como ponto de partida deve entender estes conceitos com propriedade.
Diante disto, vale ressaltar que ainda há muito que se fazer em relação à promoção, apoio e proteção ao aleitamento materno, até que nós seres humanos, possamos tornar a prática da amamentação naturalmente um ato difundido entre as culturas sociais e familiares.
Monografia apresentada como requisito parcial a obtenção do título de Especialista no curso de Saúde Pública das Faculdades Integradas Espírita – UNIBEM – Atualize Promotora de Cursos e Eventos.
Ana Cecilia Dias Aragão
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