AMAMENTAÇÃO DO PREMATURO: EXPERIÊNCIA DE UM HOSPITAL AMIGO DA CRIANÇA
resumo
Breastfeeding the Premature Infant:
Experience of a Baby-Friendly Hospital in Brazil
J Hum Lact 21(1), 2005
Resumo:
A amamentação é uma forma natural de alimentar o lactente, proporcionando vantagens nutricionais, imunológicas, psicológicas e econômicas. Tais qualidades são especialmente importantes para o neonato prematuro devido a sua vulnerabilidade. Contudo, tem sido observada uma baixa incidência de amamentações bem sucedidas nesta população. Esse estudo investigou até que ponto a freqüência do uso do leite materno influencia na eliminação dos riscos corridos pelo prematuro. Participaram da pesquisa 244 recém natos prematuros de um Hospital Amigo da Criança. A freqüência observada do uso do leite materno na unidade neonatal durante o estudo foi de 94,6%. A verificação de que o prematuro estava recebendo leite materno reflete um programa bem estruturado de promoção da amamentação nessa instituição, que se baseia em uma equipe interdisciplinar que fornece apoio adequado às mães.
Amamentação é o método natural de alimentar o lactente. Provê uma combinação única de carboidratos, minerais, proteínas, vitaminas, enzimas e células vivas que possibilita benefícios nutricionais e imunológicos, assim como psicológicos e econômicos. Tais qualidades são muito importantes para os prematuros, devido a sua vulnerabilidade.
Amamentar um prematuro é uma tarefa difícil, visto que esses pacientes apresentam imaturidade psicológica e neurológica, hipotonia muscular, e uma alta reação a estímulos do meio; além disso, eles permanecem alerta por apenas pequenos períodos. Essas características, assim como as muitas outras barreiras pro aleitamento em hospitais, têm contribuído para diminuir a taxa de amamentação bem sucedida entre os prematuros. Os obstáculos associados a isso são geralmente relacionados com os serviços de alto risco neonatal. Esses prematuros frequentemente são desmamados antes mesmo de saírem do berçário de alto risco. Acompanhando a hospitalização do recém nascido, muitas mães percebem que amamentar é uma das únicas maneiras de contribuir para a recuperação do neném. No entanto, poucas dessas mães conseguem começar e continuar a produção adequada de leite sem a ajuda de um profissional de saúde e sem o apoio da família.
Para facilitar a promoção adequada e o apoio da amamentação ao prematuro, é necessário um time de profissionais, com uma variedade de profissionais de saúde e experiência médica: são neonatologistas, enfermeiros, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas… Esses indivíduos devem ser qualificados e preparados para providenciar todas as informações necessárias sobre aleitamento materno para as mães dos prematuros. Além de exigir treinamento na educação de saúde, é sugerida a necessidade de novos métodos clínicos e, consequentemente, fundos para a realização desse programa.
Para esse método progredir, será preciso haver uma mudança na atitude do corpo hospitalar e uma reestruturação dos cuidados hospitalares.
Métodos
Indivíduos estudados e localização
Um estudo observacional foi empreendido com todos os prematuros vivos que foram aceitos e tratados no Hospital Maternidade Darcy Varas em Joinville, Santa Catarina, Brasil, entre setembro de 1998 e junho de 1999. Durante esse período 296 dos 434 recém nascidos hospitalizados no setor de alto risco neonatal eram prematuros, e 253 tiveram recuperação.
Nove prematuros foram excluídos do estudo pelos seguintes motivos: a mãe não foi entrevistada antes da recuperação do neném (n = 2), a mãe se recusou de amamentar (n = 2), a mãe era soropositivo para HIV (n = 3), presença de distúrbios psicológicos na mãe que exigem tratamento psiquiátrico (n = 1), e o prematuro foi candidato à adoção (n = 1). Consequentemente, o estudo foi efetivado com 244 pares mãe-prematuro.
Joinville é município com aproximadamente 440.000 habitantes e com taxa de mortalidade infantil de aproximadamente 11 por 1000 recém natos. O Hospital Maternidade Darcy Vargas é uma instituição pública, e um Hospital Amigo da Criança, que segue os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno; há 135 leitos, em que 99 são de obstetrícia e 36 para neonatais. O setor de alto risco neonatal é composto por 6 leitos na observação, 20 leitos na unidade intermediária e 4 leitos na unidade intensiva. Há um programa específico, sendo desenvolvido com mães de crianças hospitalizadas, que oferece apoio para manter a amamentação, que inclui intervenções como ordenha de leite humano e sessões de amamentação no hospital. Além disso, o Hospital Maternidade Darcy Vargas mantém um banco de leite humano.
Após a aprovação pelo coordenador de neonatologia do Hospital e pela Comissão de Ética foi desenvolvido um método para coletar informações socioeconômicas e médicas relacionadas ao recém nato e sua família. As informações coletadas foram armazenadas e analisadas, usando o software epi-info, versão 6.03 (Organização Mundial de Saúde/Centros para Controle e Prevenção de Doenças).
Definições de estudo
A prevalência de aleitamento materno foi calculada baseada no percentual de recém natos sendo alimentados com leite humano quando se recuperaram. Essa definição foi então subdividida em alimentação exclusiva com leite humano: se o bebê mamou no peito ou estava recebendo leite materno ordenhado e alimentação parcial com leite humano, se o bebê foi alimentado com o leite de sua mãe, mas recebendo outras fontes lácteas simultaneamente. O bebê “desmamado” foi considerado aquele que recebeu alimentação apenas leite não-humano.
Práticas alimentícias na unidade neonatal do Hospital Maternidade Darcy Vargas
Mães de prematuros são encorajadas a ordenhar seu leite, precedida por massagem nas mamas, de 8 a 10 vezes ao dia, para garantir esvaziamento completo da mama, que é essencial para a continuação da produção de leite.
Para evitar a introdução de bicos artificiais, os prematuros na unidade neonatal do Hospital são alimentados no copinho. O leite escolhido para o bebê é o que vem de sua própria mãe, quando disponível. A segunda opção é o leite humano vindo do banco de leite e por último, formulas infantis. O aleitamento materno é feito logo após a estabilização clinica do recém nato.
Quando a condição clinica do prematuro permite que a amamentação (mamar no peito) comece em um curto período de tempo, a mãe é encorajada a permanecer na unidade hospitalar. Se a iniciação da alimentação no peito não for agendada a alta da mãe é adiada até que ela seja adepta as técnicas de ordenha, armazenamento e conservação de seu leite. Além disso, para facilitar visitas diárias, a mãe é autorizada a receber uma doação para cobrir os custos do transporte até o hospital, assim como refeições feitas por ela enquanto estiver presente na maternidade.
Na unidade neonatal, as mães recebem ajuda de profissionais de enfermagem durante as sessões de amamentação. Essa ajuda inclui instruções de como posicionar o bebê adequadamente na mama e identificar a sucção e a deglutição. O objetivo dessas instruções é permitir que as mães adquiram confiança suficiente na sua habilidade de amamentar a fim de que continuem a prática quando estiverem em suas casas.
O programa das Enfermarias de Acompanhamento às Mães é outro caminho pelo qual as mães dos prematuros podem ficar em contato freqüente com seu bebê hospitalizado na unidade neonatal. Assim que o bebê consegue mamar no peito, a mãe é convidada a ser rehospitalizada a fim de que acompanhe o tratamento de seu filho e que receba treinamento em amamentação, alimentação no copinho, e o cuidado com o recém nato. Se a mãe não puder ou não quiser se rehospitalizada, ela é encorajada a ir visitar diariamente, a qualquer hora, para que consiga amamentar com a maior freqüência possível.
Apoio a mães e família do prematuro
Mulheres com gravidez de alto risco, assim como sua família, regularmente se encontram com assistentes sociais do período pré-natal até que o bebê receba alta da unidade neonatal. O propósito dessas visitas é oferecer assistência a problemas sociais e econômicos e providenciar o acesso necessário a serviços na comunidade. Assistentes sociais também encorajam a participação da família e o apoio à mãe durante o período em que o prematuro está hospitalizado.
O time de apoio depende de especialistas de outras áreas, incluindo psicologia, terapia ocupacional, terapia corporal, e fonoaudiologia. Por exemplo, conselhos individuais ou sobre a família é necessitado para organizar problemas emocionais e outras questões; isso estimula a confiança materna na sua capacidade de cuidar do prematuro, particularmente em relação à amamentação.
Além de administrar o som do ambiente na unidade ambiental, os fonoaudiólogos avaliam o prematuro ouvindo através de emissões otoacusticas. Os fonoaudiólogos também realizam estimulo oral do bebê, que é importante para determinar o horário mais adequado para começar a amamentar, e porque a sucção não nutritiva acelera a transição para a alimentação oral do prematuro.
Enquanto os prematuros ainda na unidade neonatal de cuidado intensivo, o terapeuta corporal é responsável pelo posicionamento apropriado dos mesmos. A posição adequada de seus corpos satisfaz sua necessidade por conforto corporal e permite interação com os pais. Terapeutas ocupacionais desenvolveram um programa em intervenções precoces a recém natos de alto risco; esse programa promove humanização dos cuidados providos pela equipe de enfermeiros, estimulo sensorial dos neonatos, e integração das mães com os cuidados de seus bebês.
As famílias dos prematuros também são convidadas a se apresentar em um grupo de apoio aos pais de duas em duas semanas. Coordenado por um time interdisciplinar, esse grupo representa uma oportunidade para os pais discutirem e trocarem experiências em uma tentativa de aliviar a ansiedade da família e promover a amamentação. A participação da família é encorajada, especialmente dos avós, para que esses também possam oferecer apoio aos pais do prematuro.
Resultados
A tabela 1 apresenta a freqüência e distribuição das características principais do prematuro, de acordo com as categorias definidas. Amamentação foi iniciada entre meia hora e 79 dias após o nascimento; 41,6% dos pacientes foram amamentados nos primeiros 5 dias de vida. A tabela 2 apresenta as características das mães. A duração da hospitalização de acompanhamento das mães foi de 1 a 30 dias em 83,2% dos casos (razão de 6,7 a 6,2 dias) e 16,8% das mães não foram rehospitalizadas. A tabela 3 apresenta características socioeconômicas e outras sociais das famílias dos prematuros.
Dos 244 prematuros estudados, 231 (94,6%) estavam recebendo leite materno quando obtiveram alta. O leite materno que alimentou 206 prematuros (84,4%) poderia ser categorizado como alimentação exclusiva com leite humano, enquanto o que alimentou 25 prematuros (10,2%) pode ser categorizado como alimentação parcial com leite humano. 13 prematuros (5,4%) foram desmamados (Figura 1).
Discussão
Os resultados desse estudo demonstram que a alimentação com o leite materno é valida. A verificação de que 94,6% dos prematuros da nossa instituição estavam recebendo leite materno quando obtiveram alta, a que atribuímos um programa bem estruturado para educar e apoiar as mães e famílias dos prematuros, coincide com taxas de amamentação de outras maternidades que promovem amamentação.
O estudo descrito mostra as taxas de amamentação em um Hospital Amigo da Criança. Porem, infelizmente, isso não ocorre em todas as unidades neonatais de alto risco. A fim de que aumente a taxa de amamentação em prematuros, deve haver uma mudança na estrutura e na equipe de hospitais. É importante que a medicina neonatal incorpore a humanização em seus serviços e não apenas os métodos de alta tecnologia.
Portanto, o correto a ser feito seria não permitir que os prematuros hospitalizados fossem privados da presença de suas mães e da amamentação, visto que a amamentação, além de ser de extrema importância para a saúde do bebê, é um fator positivo para a mãe conseguir enfrentar o fato de o seu filho ter nascido prematuro e, consequentemente, estar hospitalizado.
Palavras chave: amamentação, Iniciativa Hospital Amigo da Criança, bebê prematuro.
Copyright 2005 International Lactation Consultant
Este artigo foi resumido e traduzido pela estudante Monica de Britto P. Bandeira de Melo da Faculdade de Medicina – UFRJ – 3º período, como uma das atividades da disciplina PINC – Programa de Iniciação Científica, sob supervisão do Prof. Marcus Renato de Carvalho
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