INVESTIR na PRIMEIRA INFÂNCIA:
PROMOVENDO uma SOCIEDADE mais JUSTA
A primeira infância é compreendida por muitos como a faixa entre 0 e 6 anos, entretanto, em 2012 a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal – FMCSV lançou o conceito da Primeiríssima Infância:
“Na fecundação e concepção começa uma nova vida. A primeiríssima infância define o desenvolvimento e o futuro dessa vida. É no período da gestação aos três anos que a criança desenvolve seu cérebro, forma seus processos neurológicos, fortalece neurônios e sinapses. Os cuidados e estímulos à criança durante a primeiríssima infância determinam sua aptidão e capacidade de aprender, sua velocidade e qualidade de raciocínio, sua criatividade e memória, suas habilidades para relacionar-se, suas competências e comportamentos que valerão para todo seu futuro”( FMCSV,2012).
Estudos sobre a psiquiatria do bebê aparece na França, em 1983, através de Lebovici. Este autor estabelece que a interação do bebê com sua mãe é indissociável no desenvolvimento afetivo da criança pequena (OLIVEIRA, 2008). Ao mesmo tempo os aportes da neurociência tem demonstrado a importância dos cuidados no início da vida e enfatiza que os três primeiros anos são para sempre.
O trabalho em psicoprofilaxia, portanto, deve começar ainda na gestação, no cuidado da saúde psíquica da mãe, pois os processos do amadurecimento do bebê se iniciam já nesse momento (AIELLO-VAISBERG, GRANATO, 2006; BYDLOWSKY, 2002; LEBOVICI; SOLIS-POTON 2004; CÉLIA, 2002, 2004; SZEJER, STUART, 1997; STERN, 1997).
Oliveira destaca a importância dos cuidados com a saúde da gestante, pois “quando se cura a mãe, se cura toda a família”(MORO 2007) :
“O acolhimento das angústias e dos conflitos que emergem então, especialmente entre aquelas que não contam com os suportes necessários para entrar no estado de preocupação materna primária, favorece o vínculo bem como a atuação frente a fatores psicológicos, como somatizações, possibilidade de partos prematuros, de intercorrências clínicas e psicológicas no pré e pós-parto”(OLIVEIRA,2008).
Atualmente, usufruímos de uma extensa produção de conhecimento científico em diferentes campos, construída por clínicos, pesquisadores, psicólogos desenvolvimentistas, pediatras, psiquiatras infantis e psicanalistas, como Winnicott e Lebovici. Isso tornou possível a realização de projetos de políticas públicas, tanto para promover a saúde, quanto para intervir precocemente, através de dispositivos experimentais de fácil utilização pelos profissionais de saúde para identificar sinais de riscos/alerta, em idades cada vez mais precoces. O aporte de conhecimento acumulado pela ciência deveria receber a contrapartida das instâncias governamentais, que deveriam então, investir em projetos que beneficiassem amplos setores da população, de modo especial aqueles que se encontram em situação de maior vulnerabilidade devido a fatores econômicos e socioculturais, resultado de uma política econômica perversa (OLIVEIRA,2008).
O artigo da CAMBIA também traz alguns contrapontos bem interessantes. Por exemplo: “No Brasil, uma criança na pré-escola não custa mais do que US$ 100, mas, uma criança na rua custa de US$ 200 a 300 e uma criança no sistema penal custa US$ 1000 por mês. As despesas de exclusão são altas. E de onde vêm os recursos? Da própria sociedade”.
Não é difícil concluir que a gestão dos recursos públicos, destinados à promoção da saúde na Primeira Infância, precisa ser periodicamente revisitada para que a elaboração de políticas públicas torne-se mais eficiente e responda às necessidades das famílias e de seus filhos.
E os benefícios desse cuidado não se restringem a um ou dois núcleos familiares, mas refletem no bem-estar da sociedade como um todo. Para respaldar essa afirmação, a publicação “Um Município para as Crianças”, da Fundação Abrinq, diz que “a conclusão dos economistas é clara: o que se aplica em educação infantil não é gasto, mas investimento (GAAG, 1999). Cada R$ 1,00 aplicado na primeira infância equivale a R$ 7,00 aplicados na juventude ou na vida adulta (HALPERN e MYERS, 1985)”.
A equação é simples: uma infância bem cuidada vai dar suporte a adultos mais sadios, física e emocionalmente, a profissionais competentes, a pais comprometidos, a cidadãos participativos e a uma sociedade mais digna e justa.
“Boas condições de saúde – tanto da mãe quanto da criança –, boa nutrição, bons cuidados parentais, forte apoio social e interações estimulantes fora de casa combinam-se para prover as melhores chances de sucesso. Uma vez que a negligência no investimento em qualquer desses fatores reduz o valor do investimento nas outras áreas, investimentos para melhoria da saúde pré e pós-natal da futura mãe são um aporte crucial para o DPI.”
David Dodge
“Desde a gravidez e ao longo da primeira infância, todos os ambientes em que a criança vive e aprende, assim como a qualidade de seus relacionamentos com adultos e cuidadores têm impacto significativo em seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social.”
Jack P. Shonkoff
“Sabemos hoje que, assim como a herança genética, os cuidados no início da vida são importantes para o desenvolvimento humano inicial, e que os cuidados nos primeiros anos têm efeitos importantes sobre a aprendizagem na escola e sobre a saúde física e mental por todo o ciclo da vida.”
J. Fraser Mustard
Fonte: FMCSV