Pai vira “canguru” em UTI neonatal de hospitais
Objetivo é estimular o desenvolvimento de prematuros com o contato corporal
Implantado no SUS em 1999 e oferecido também em maternidades particulares, programa é mantido até que os filhos ganhem peso
DANIELA TÓFOLI
A cena chama a atenção. Uma fila de homens com o figurino de enfermeiros se forma na entrada da UTI neonatal. De personagens coadjuvantes, eles passarão a protagonistas. Vai começar mais uma sessão do projeto pai-canguru.
Criado para que as mães de bebês prematuros ficassem junto aos filhos enquanto eles ganham peso, passando o calor do corpo e a sensação de proteção que tinham no útero, a técnica para desenvolver os recém-nascidos tem atraído os pais para as UTIs neonatais de maternidades particulares, principalmente de manhãzinha ou no fim da tarde, quando não estão trabalhando.
Alguns, como Marcelo Souza, 36, não podem abrir mão do trabalho e adaptam a rotina à nova função. Pai de Sophia e Kaio, que nasceram de 36 semanas na terça-feira com 2,08 quilos e 2,23 quilos respectivamente, ele aderiu ao programa.
Nesta semana, quando acaba sua licença, irá negociar com seu chefe para continuar sendo um “pai-canguru”. “É maravilhoso sentir a respiração e o calor deles. Meus filhos estão lutando pela vida e vou ajudar o máximo que puder.”
Não há dados sobre a adesão dos pais ao projeto, mas sabe-se que 6,3% dos bebês do país nascem prematuros. Isso fez o Ministério da Saúde implementar o mãe-canguru no SUS em 1999. Algumas maternidades particulares já tinham o programa antes, mas apenas há alguns anos ele começou a ser oferecido aos homens.
“Quando a gente sugere, boa parte dos pais aceita na hora”, diz Maria Augusta de Freitas, superintendente da maternidade Pro Matre. “No começo eles são desajeitados, têm medo de machucar o recém-nascido. Mas depois pegam tanto jeito que trocam experiências. Quando algum bebê tem alta, celebram com champanhe.”
Pais-coruja como Marcelo Souza foram os que encorajaram o hospital São Luiz a abrir o projeto para os homens. Os números atestam o sucesso do programa. No ano passado, só 5% dos pais não aderiram. “Ficamos imaginando se faria bem ao bebê, se ele criaria logo um vínculo com o pai”, lembra a coordenadora do curso de gestantes do hospital, Márcia Regina da Silva.