Mãe canguru: o prematuro cresce, sentindo cheiro, sabor e o calor materno
Pediatra observa quanto é importante para o neném que
chegou antes da hora
ficar grudadinho ao peito da mamãe
MÃE–CANGURU: O afeto salva vidas!
O nascimento de um bebê prematuro é um choque para os pais e um desafio para profissionais e serviços de saúde. Mesmo dentro de uma UTI neonatal equipada com alta tecnologia, é impossível prover ao recém nascido humano todas as condições ótimas em que o bebê gozava dentro do útero materno.
* Foto de William Santos – Maternidade Escola – UFRJ
Mas, em 1979, na Colômbia, os neonatologistas E. Sanabria e H. Martinez tiveram a idéia de manter os prematuros em contato permanente com suas mães, em “posição canguru”. O método permite que estes bebês sejam aquecidos com o calor ideal, recebam um leite “precoce” especialmente produzido por suas próprias mães e continuem recebendo o contato, o carinho, a voz e os movimentos de suas mães, em seu colo. Com esta “nova” tecnologia – o Cuidado Mãe-Canguru, as taxas de infecções hospitalares, o tempo de internação e o abandono diminuíram, o tempo de sobrevivência foi prolongado, assim como a qualidade de vida destes frágeis seres. Dessa forma, as incubadoras foram substituídas e o custo reduzido.
O método Mãe Canguru consiste, resumidamente, no contato pele a pele, entre a mãe e o recém-nascido de baixo-peso (menor que 2.500g) e/ou prematuro, com a colocação do bebê no seio materno, na posição vertical. A utilização do termo “mãe” não exclui a participação do pai ou de outros familiares.
MÃES e PAIS também PREMATUROS
Ter um bebê prematuro pode trazer aos pais sentimentos perturbadores como a culpa, pôr acharem que fizeram algo que possa ter provocado esta situação ou tenham deixado de tomar alguma medida preventiva. O fato de estarem separados nestes momentos iniciais, já que o bebê está na UTI convencional (onde a metodologia canguru não é praticada), podem potencializar estas emoções. Uma primeira atitude é reconhecer e expressar estas sensações para os profissionais de saúde. Conversar com outros casais que já passaram por esta situação também é recomendável. O contato íntimo que o cuidado mãe-canguru propicia vai resgatando a auto-estima destes pais, fazendo com que se sintam úteis e participem mais ativamente da recuperação do seu bebê. Uma “gestação extra uterina” é vivenciada, beneficiando pais e filho.
NECESSITAM de uma ALIMENTAÇÃO ESPECIAL
O colostro – um líquido amarelado que brota das mamas maternas, durante a gestação, até que desça o leite materno – é riquíssimo em anticorpos e possui células vivas, os leucócitos. É facilmente digerido, tem propriedades laxantes, o que previne a icterícia neonatal, contém hormônios e fatores de crescimento, além de muitos outros nutrientes que não devem ser desperdiçados. Às vezes, ele é ofertado em minúsculos conta-gotas, o que já causa um grande efeito (nutrição trófica), prevenindo a enterocolite necrosante, uma patologia intestinal freqüente nestes recém natos.
Mães de bebês prematuros produzem um leite especial para seus filhos, com maior teor protéico, imunológico e menor de lactose do que o “leite a termo” (37-42 semanas de idade gestacional).
Recém nascidos de menos de 30 semanas de idade gestacional precisam se alimentar por um tubo ou sonda gástrica ou ainda pôr alimentação parenteral (endovenosa), devido a suas características. Com 30-32 semanas de idade a alimentação por copinho, colher ou conta-gotas é possível. Em torno das 32 semanas de gestação, tendo ele aproximadamente 1.300g., a amamentação às vezes é possível. Com 36 semanas e com mais ou menos 1.800g. a alimentação ao seio é bem coordenada e viável.
Felizmente, desde 1999, o Brasil reconheceu esta metodologia, amplamente utilizada no SUS, que normatizou e capacitou pessoal para sua adequada implantação. Algumas maternidades particulares também já adotaram este novo paradigma de cuidado neonatal humanizado.
* Mãe-Canguru será um dos muitos e interessantes temas do
XVI ENCONTRO de GESTAÇÃO e PARTO NATURAL CONSCIENTES
nos dias 24-26 de novembro próximos no Espaço Tom Jobim no Jardim Botânico – Rio de Janeiro.
Lá estarei e espero encontra-los.
Marcus Renato de Carvalho
Publicado no Blog SAÚDE MÃE-PAI-BEBÊ dO Globo Online
em 20 de novembro de 2006
http://oglobo.globo.com/blogs/saudebebe/