AVALIACAO DA IMPLANTACAO DO METODO CANGURU:
O CASO DE UMA MATERNIDADE EM BELO HORIZONTE,MINAS GERAIS BRASIL
EVALUATION OF THE IMPLEMENTATION OF THE KANGAROO METHOD: THE CASE OF A
MATERNITY IN BELOHORIZONTE, STATE OF MINAS GERAIS BRAZIL
EVALUACION DE LA IMPLANTACION DEL METODO CANGURO: EL CASO DE UNA MATERNIDAD
EN BELO HORIZONTE
Tarcísio Laerte Gontijo
Deborah Carvalho Malta
RESUMO
Trata-se de estudo de avaliação da implantação da Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método
Canguru (MC) – em uma maternidade de Belo Horizonte – MG, fundamentado nos aspectos clássicos da avaliação
normativa: estrutura, processo e resultado. Utilizou-se como coleta de dados a observação semi participante e entrevistas com 19 profissionais e 13 mães participantes do método na instituição. A estrutura mostrou-se adequada, e na avaliação
do processo verificou-se que o método foi assimilado de forma diferenciada pelos profissionais. Na avaliação de
resultados identificou-se que os bebês assistidos nesse programa recebem alta mais precocemente, sendo o serviço
bem avaliado pelas mães, que se sentem mais seguras para cuidar do bebê prematuro.
Palavras-chave: Parto Humanizado; Recém-Nascido de Baixo Peso; Humanização da Assistência; Avaliação de Processos e Resultados (Cuidados de Saúde); Enfermagem Neonatal.
ABSTRACT
This is an evaluation study of the implementation of Humanized Care for Low Birth Weight Newborn Infants – Kangaroo
Method, in a maternity care facility in Belo Horizonte/MG, underpinned by the classic aspects of normative evaluation:
structure, processand results. Data were collected by semi-participatory observation and interviews with 19 professionals
and 13 participating mothers in the method in that institution. The structure was verified to be appropriate and on
evaluation of the process, it was seen that the health care professionals grasped the method in differentiated ways. On
assessment of results, it was identified that the babies assisted by this program were discharged earlier and the service
was well evaluated by the mothers, who felt more confident to care for the premature baby.
Key words: Humanizing Delivery; Infant, Low Birth Weight; Humanization of Assistance; Outcome and Process
Assessment (Health Care); Neonatal Nursing.
RESUMEN
Tratase de un estudio de evaluación a la implantación de la Atención Humanizada al recién nacido de bajo peso – el
Método Canguro, en una maternidad de Belo Horizonte/MG, fundamentado en los aspectos clásicos de la evaluación
normativa: estructura, proceso y resultado. Fueron utilizados, como coleta de datos, la observación semi participante y
encuestas con 19 profesionales y13 madres del método en la institución. La estructura muestrase adecuada y al evaluar
el proceso, encuéntrase que el método fue asimilado de manera diferenciada por los profesionales. En relación a los
resultados, identificase que los recién nacidos asistidos en este programa reciben alta hospitalaria temprana, siendo
el servicio bien aceptado por las madres, que se sienten mas seguras para cuidar a sus hijos prematuros.
Palabras clave: Parto Humanizado; Recién Nacido de Bajo Peso; Humanización de la Atención; Evaluación de Procesos
y Resultados (Atención de Salud); Enfermería Neonatal.
DISCUSSAO
Na área de avaliação de serviços de saúde, há um amplo processo de expansão e diversificação conceitual e metodológica propiciando novos instrumentos aos administradores para a tomada de decisão. A avaliação de uma intervenção deve permitir não somente o julgamento de sua eficácia, mas também dos fatores
explicativos dos resultados obtidos, tendo em vista modificações posteriores. 9,10
Contandriopoulos 6 diz que “a avaliação é uma atividade tão velha quanto o mundo, banal e inerente ao processo de aprendizado, sendo também um conceito em moda,
com contornos vagos e que agrupa realidades múltiplas e diversas”. A avaliação normativa consiste em fazer um julgamento sobre uma intervenção, comparando a estrutura, os processos e os resultados com critérios
e normas.
Donabedian, 5 considerado um autor clássico na
avaliação refere-se à estrutura como atributos materiais e organizacionais relativamente estáveis nos locais onde proporciona-se a atenção. Os fatores que contribuem
para as condições sob as quais o cuidado é oferecido incluem recursos materiais, recursos humanos e características organizacionais.
O termo “processo” refere-se à atenção que os profissionais de saúde e outros provedores dispensam aos pacientes, como diagnóstico, tratamento, reabilitação e educação,
além da habilidade com que efetuam essa atenção.
Também se incluem as contribuições que os pacientes e seus familiares trazem para o cuidado. Já o termo resultado refere-se ao que se obtém para o paciente e supõe uma alteração no estado de saúde que possa ser atribuída à atenção sob avaliação. Os resultados
também incluem outras conseqüências da atenção, como conhecimento sobre a enfermidade e mudanças na conduta. 11 Torna-se importante desenvolver estudos
de avaliação de serviços e programas contribuindo para o aperfeiçoamento das práticas.
Quanto à avaliação da aplicação do MC na maternidade em estudo, sua estrutura, em geral, atende aos requisitos preconizados na norma. Em relação à capacitação identificou-se que 86% dos profissionais não receberam treinamentos e, portanto, não adquiriram conhecimentos sobre as normas e rotinas do MC, o que pode ter levado à baixa incorporação por parte
dos profissionais de determinadas práticas do método.
Entretanto, mesmo sem treinamento específico, grande parte dos entrevistados reconhece a importância do método, principalmente em relação às vantagens dele para o desenvolvimento do bebê.
Segundo Toma, 12 o sucesso do MC depende não só da vontade da mãe, mas também de uma equipe de saúde compreensiva. No MS é necessária a mudança de comportamento e da filosofia profissional para que a implantação dessa atenção humanizada não sofra
solução de continuidade em nenhuma de suas etapas. 4
Segundo Toma et al.,3 a melhor apreensão da “filosofia” de trabalho que reina entre os membros da equipe e as chefias, assim como a avaliação periódica das práticas
por meio de instrumentos padronizados que sirvam de retroalimentação do sistema, poderia ser útil nesse processo.
Bell e McGrath13 descreveram a experiência de
implantação do MC numa instituição e relataram que o primeiro insucesso dessa implantação foi coma equipe de profissionais, que se encontrava fragmentada e com condutas discrepantes relacionadas ao método e à falta de compromisso de alguns profissionais com os
familiares.
Ainda em relação à estrutura, algumas normas não foram seguidas, como o não-seguimento do recém-nascido até atingir 2 500 g e a freqüência do acompanhamento após a alta. O desenvolvimento da terceira etapa tem
encontrado dificuldade de implantação em outras
maternidades, conforme descrito por Colameo e Rea, 14 em estudo em que avaliaram a implantação desse método nas maternidades do Estado de São Paulo.
Na avaliação de processo, destaca-se a baixa articulação entre as três etapas, especialmente na primeira, resultando na baixa identificação de crianças elegíveis para o método. Essa baixa articulação pode se dever ao processo de trabalho, alocando profissionais distintos
para cada uma das etapas da assistência.
Quanto aos resultados alcançados, destaque-se que os bebês assistidos pelo MC tiveram alta precoce em relação aos bebês assistidos no cuidado tradicional (incubadoras),
o que já demonstra avanços no desenvolvimento do MC, nessa maternidade, diminuído, assim, o tempo de internação. Esse resultado é importante porque reduz riscos às crianças, bem como custos hospitalares.
Carvalho1 cita que o MC tem como vantagens a alta antecipada, aleitamento materno exclusivo, posição canguru para prover calor, educação/informação às mães e acompanhamento ambulatorial.
Outro ponto importante a destacar é a diminuição nos custos da internação, uma vez que a alta é precoce.
Lima et al. 15 em estudo realizado no Recife, onde foram acompanhadas 244 crianças com baixo peso ao nascer, descreve que uma das importantes vantagens do método é o baixo custo de sua operacionalização, uma
vez que esses autores identificaram um custo três vezes maior na assistência tradicional quando comparado ao Método Canguru.
A proposta brasileira do Método Canguru, com sua aplicação dividida em três etapas, sendo parte da assistência focada nos aspectos psico-afetivos que cercam o nascimento de um recém-nascido prematuro e a outra, aos cuidados técnicos relativos ao atendimento
do recém-nascido, incluindo o cuidado com a mãe, e à família tem demonstrado uma experiência mais ampla do que de outros países, entretanto com muitas barreiras
ainda a serem vencidas. 16
Conclui-se, portanto, que existem avanços importantes nesta maternidade, mas ainda há necessidade de maior apoio institucional para a capacitação da equipe, melhor articulação entre as etapas do método e implantação
mais efetiva, especialmente da primeira e da terceira etapa. Toma et al.3 descreve que uma das possíveis barreiras para a implantação de todas as etapas previstas
para o método está na dificuldade das equipes em lidar com as famílias. O grande mérito do MC consiste em promover a humanização do atendimento, ampliando o vínculo entre mãe e recém-nascido. Portanto, os principais destaques consistem na boa avaliação das
mães quanto ao serviço prestado e na redução do tempo de internação, destaques que justificam a continuidade e a ampliação do método.
REFERENCIAS
1. Carvalho MR. Método Mãe Canguru de Assistência ao Prematuro. Rio de Janeiro: BNDES; 2001. 96 p.
2. Conde-Agudelo A, Diaz-Rosello JL, Belizan JM. Kangaroo mother care to reduce morbidity and mortality in lowbirthweight infants. Cochrane
Database Syst Rev. 2003; (2):CD002771.
3. TomaTS, Venâncio SI, Andretto DA. Percepção das mães sobre o cuidado do bebê de baixo peso antes e após implantação do Método Mãe-
Canguru em hospital público da cidade de São Paulo, Brasil. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2007; 7(3): 297-307.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 693, Dispõe sobre a norma para a implantação do método canguru, destinado a promover a atenção
humanizada ao recém-nascido de baixo peso de 5 maio de 2000. Brasília: Ministério da Saúde; 2000.
5. Donabedian A. Garantía y monitoría de la calidad de la atención médica. México: Instituto Nacional de Salud Publica; 1990.
6. Contandriopoulos AP, Champagne F, Denis JL, Pineault R. A Avaliação Na Área de Saúde: Conceitos e Métodos. In: Hartz ZMA. Avaliação em
Saúde: dos modelos conceituais à prática na análise da implantação de programas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1997. p. 29-49.
7. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção Humanizada ao Recém Nascido de Baixo Peso – Método Mãe Canguru – Guia de Avaliadores Externos.
Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
8. Bardin L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Martins Fontes; 1978
9. Hartz ZMA. Explorando novos caminhos na pesquisa avaliativa das ações de saúde. In: Hartz ZMA, Organizadora. Avaliação em saúde: dos
modelos conceituais à prática na análise da implantação de programas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1997. p. 19-28
10. Novaes HMD. Avaliação de programas, serviços e tecnologias em saúde. Revista de Saúde Pública. 2000; 5: 547-59.
11. Malta DC. Buscando novas modelagens em saúde, as contribuições do ProjetoVida e Acolhimento para a mudança do processo de trabalho
na rede pública de Belo Horizonte 1993-1996 [tese]. Campinas: Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Campinas; 2001.
12. Toma TS. Método Mãe Canguru: o papel dos serviços de saúde e das redes familiares no sucesso do programa. Cad Saúde Pública. 2003;
19: 233-42.
13. Bell RP, McGrath JM. Implementing a research based Kangaroo care programin the neonatal intensive care unite. Nurs Clin North Am. 1996;
31: 387-403
14. Colameo AJ, Rea MF.O método mae canguru em hospitais públicos do Estado de São Paulo, Brasil: uma análise do processo de implantação.
Cad Saúde Pública. 2006; 22(3):597-607.
15. Lima G, Quintero-Romero S, Cattaneo A. Feasibility, acceptability and cost of Kangaroo mother care in Recife, Brasil. Ann Trop Paediatr.
2000; 20:22-6.
16. Lamy ZC, Gomes MASM, Gianini NOM, Hennig MAS. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso – Método Canguru: a proposta
brasileira. Ciênc Saúde Coletiva. 2005; 10(3): 659-68.
Leia o artigo completo na REME – http://www.enf.ufmg.br/reme.php
Avaliação da implantação do método canguru: o caso de uma maternidade em Belo Horizonte, Minas Gerais – Brasil
REME – Rev. Min. Enferm.;12(2): 189-194, abr./jun., 2008
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