Bebê com Síndrome de Down pode e deve ser amamentado
Todos nós sabemos o valor do Aleitamento Materno para o crescimento saudável do lactente, bem como as vantagens para a mulher. Apesar disso, o desmame ainda é precoce. No Brasil temos poucos dados, mas o que se nota é que a não amamentação ou a introdução de mamadeira com fórmulas infantis é ainda mais prevalente nos portadores de Síndrome de Down (SD). Justamente, devido ao risco maior de enfermidades, hipotonia oral, atraso no desenvolvimento, maior dificuldade no estabelecimento do vínculo entre mãe e filho é que a alimentação ao seio precisa ser mais promovida e apoiada, principalmente neste caso.
A Amamentação Propicia Benefícios Especiais:
– Protege contra infecções e problemas gastrointestinais: bebês com SD são mais propensos as infecções respiratórias e constipação, cólicas, regurgitação ou refluxo gastroesofágico. O Leite Humano provê imunidade e é de fácil digestão.
– Estimula a coordenação oral para sucção e deglutição: o ato de mamar ao seio ajuda estes bebês a fortalecerem sua estrutura oro-facial, que facilitará o desenvolvimento da linguagem posteriormente.
– Estimulação extra: o maior contato pele-a-pele propiciado automaticamente pelo aleitamento natural dá ao lactente estímulos sensoriais que possibilitam alcançar mais plenamente suas potencialidades.
– Proximidade entre o binômio: a amamentação, quando está indo bem, pode estreitar o apego entre a mãe e seu filho, sendo fonte de prazer mútuos. O recém nascido (RN) precisa de colo, aconchego e sua mãe precisa senti-lo, vincular-se e “readotá-lo”. Estes contatos íntimos que só a amamentação propicia é o melhor começo para a vida de ambos.
– Realçando as habilidades maternais: a capacidade da mulher de alimentar seu bebê por si própria aumenta sua auto-estima. Você sendo persuadida e encorajada a sentir-se com conhecimento pleno para cuidar de seu filho, isto é algo que vai servir para toda sua vida.
Mesmo Estando Separados – O Aleitamento Materno Pode Continuar
Alguns RNs com Síndrome podem ter problemas cardíacos e respiratórios necessitando de cuidados de neonatologia especiais. Eles podem ter que ficar em Unidades de Terapia Intensiva ou Berçários por algum período. Mesmo assim, sua mãe deve lhe prover colostro (o precursor do Leite Materno que é riquíssimo em anticorpos e leucócitos) e depois da apojadura (primeira descida do leite que ocorre entre 2-5 dias pós-parto) lhe ofertar seu leite. Para isto ela precisa ser apoiada para a ordenha manual ou com bombas eficazes e assegurar que seu RN receba este leite por conta-gotas, seringas ou copinhos e nunca por chuquinhas ou mamadeiras. Isto é importante para a profilaxia da chamada “confusão de bicos”, isto é, o bebê perde o reflexo de sucção ao seio, o que lhe exige maior esforço. O colostro e o leite de peito dos primeiros dias é suficiente para os RNs, eles não necessitam de nenhum outro alimento, nem água ou solução glicosada.
Dificuldades Podem Ser Superadas
Um estudo (Aumonier 1983) com 59 bebês com SD relata que 52% não tiveram problemas de sucção. Porém, a maioria dos RNs com esta Síndrome tendem a ser “moles”, ou seja, tem um baixo tônus muscular (chamado de hipotonicidade), e alguns podem não estarem aptos a terem uma amamentação eficaz logo de início. Um RN assim, precisa de uma ajuda extra para achar, abocanhar e permanecer ao seio. Temos que esclarecer a esta mãe que a força muscular e de sucção vai evoluindo com o tempo e com a prática. Um lactente hipotônico pode ter dificuldade de colocar sua língua em volta do mamilo e da areola quando estiver mamando. A língua achatada ou plana (ela normalmente na mamada fica concavada) pode causar que o leite que está sendo engolido escorra pelos cantos da boca. Em função disso, o esforço dele é maior para ter menos leite. Então, as mulheres precisam ter uma disponibilidade ainda maior, principalmente nas primeiras semanas.
É também muito comum, os bebês serem “preguiçosos” e dormirem entre e durante as mamadas. Durante as primeiras semanas de vida, isto pode trazer uma dificuldade a mais para o aleitamento. Se ele não mama freqüentemente e por um tempo satisfatório, ele pode não ganhar peso suficiente.
Dicas Para Superá-las
– Tente interessar seu bebê a mamar freqüentemente durante o dia: ajude-o a ter mamadas curtas e freqüentes (menor que 10 minutos de sucção efetiva em cada peito a cada 2-3 horas) será melhor que mamadas longas e espaçadas.
– Desperte o lactente antes de oferecer o seio e o estimule a manter-se interessado durante a mamada: há posições que favorecem o sono (com o bebê deitado) que então, devem ser evitadas, carinhos vigorosos nos pés e na cabeça também podem ser usados; verifique se ele não está muito agasalhado; banhos também podem fazer com que fiquem mais despertos.
– Dê ao bebê bastante colo e converse sempre com ele: um “baby bag” pode facilitar estas tarefas.
Permaneça com ele andando pela casa, falando ao telefone, colo não vicia !
O Ideal é Estar em um HOSPITAL AMIGO DA CRIANÇA
Em uma maternidade avaliada como Amiga, se cumpre os 10 PASSOS PARA A AMAMENTAÇÃO BEM SUCEDIDA (veja abaixo) e isto significa que o pessoal de saúde é mais capacitado e as normas e rotinas favorecem o estabelecimento da lactação.
Esta iniciativa da OMS e do UNICEF em parceria com o Ministério da Saúde faz com que no Brasil já existam 80 maternidades que possuem este título, que representa um atestado de boa qualidade e humanização da atenção perinatal.
Posicione o Bebê Bem Junto ao Seio
Quando colocar o RN para mamar, certifique-se que ele está bem posicionado. Ele precisa gastar toda a sua energia para a sucção e não pode desperdiçá-la para sustentar a sua cabeçinha o para manter seu corpo para o alto a fim de alcançar o seu peito. Travesseiros, almofadas e poltronas com braços e apoio para os pés ajudam a pega ideal e mantê-lo numa posição horizontal em relação a você. Tudo isto faz ele mamar melhor e com menos esforço.
Evitando Engasgar e Sufocar
Eles têm maior tendência a engolir com dificuldades e de se “afogarem” por causa do baixo tônus muscular e suas vias aéreas ficam desprotegidas ao deglutirem. Se isto for um problema, você tem que tentar colocá-lo numa posição onde o pescoço e a garganta dele fiquem mais altas do que seu mamilo. Usando as seguintes posições:
* Adicione mais um travesseiro sob o bebê e incline-se ligeiramente para trás de modo que seu peito esteja num angulo para cima.
* Apoie-se numa cadeira de balanço com seus pés sobre uma almofada ou banqueta, fazendo com que seus joelhos fiquem para cima.
* Deite-se com ele ao seu lado com uma toalha de banho dobrada abaixo dele, de forma que o rosto dele esteja ligeiramente angulado para baixo em relação ao seu mamilo.
Um procedimento que deve acontecer com todos os lactentes ao serem colocados para mamar, é que sua boca tem que estar bem aberta para abocanhar o mamilo e parte da areola. Às vezes é necessário abaixarmos sua mandíbula (maxilar inferior) com as nossas mãos, nas primeiras semanas, nos bebês com baixo tônus muscular.
Alguns lactentes insistem em ficar com a língua suspensa, e devemos exercitá-los a pôr a língua para baixo.
Seja Artista: Mãos em Posição de Bailarina !
O bebê prétermo ou de baixo peso pode necessitar que a sua mandíbula e o seu queixo sejam sustentados para que ele sugue bem. Até que ele fique mais forte você pode usar sua mão e seu dedo indicador abaixo do maxilar inferior, apoiando seu queixinho.
Releia o “MANUAL DE INSTRUÇÕES”
Como manda a nova lei do consumidor, o seu bebê deve ter vindo acompanhado de um manual que explica como ele funciona e se manifesta. Caso isto não tenha acontecido, não dá mais para reclamar. O jeito é descobri-lo, ou seja saber como ele reage, as coisas que ele gosta ou não. No caso, por exemplo, dele ser um engolidor de ar quando está mamando, ele pode necessitar arrotar mais, inclusive entre um seio e outro (no meio de uma mamada). Descobrir como ele é e como vocês são será uma aventura muito interessante.
Ganho de Peso Insatisfatório
Relembre-se que não existe leite fraco ou pouco leite. É preciso de um acompanhamento pediátrico para verificar a eficácia das mamadas. Ás vezes é preciso retirar o leite materno dos seios e ofertá-los nos intervalos das mamadas. Apenas os bebês que possuem severas anormalidades cardíacas é que não sugam muito bem e consequentemente podem não engordar como o esperado.
Paciência e Perseverança é o Melhor Remédio
É um desafio a amamentação de um bebê com SD, mas logo logo as vantagens são percebidas e quando bem apoiado o AM é muito prazeroso para ambos. Curta esta fase, que passa tão rápido !
Para os Profissionais de Saúde
A puérpera/nutriz de um bebê com Síndrome de Down pode estar se sentindo culpada, triste no pós-parto, isto faz com que seja mais difícil reter informações, aceitar “conselhos e recomendações” de profissionais de saúde. O apoio de pessoal capacitado e sensível é fundamental. Mais tempo, carinho e dedicação devem ser ofertados para esta família, o pai, irmãos e avós estando presentes nestes momentos nos possibilita melhores resultados.
PARA MAIS INFORMAÇÕES… ESCREVA OU APAREÇA !
Marcus Renato de Carvalho, IBCLC
Prof. do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina – UFRJ
CLÍNICA INTERDISCIPLINAR DE APOIO À AMAMENTAÇÃO
Rua Carlos Gois, 375, s. 404 – Leblon – Rio de Janeiro – RJ
22440-040 – BRASIL
Tel/fax.: (021) 2249 0312
[email protected]
www.aleitamento.com
ANEXO
Todos os estabelecimentos que oferecem serviços obstétricos e cuidados a recém-nascidos deveriam cumprir os 10 passos para o sucesso do Aleitamento Materno(*):
1 – Ter uma norma escrita sobre aleitamento, que deveria ser rotineiramente transmitida a toda a equipe de cuidados de saúde.
2 – Treinar toda a equipe de cuidados de saúde, capacitando-a para implementar esta norma.
3 – Informar todas as gestantes sobre as vantagens e o manejo do aleitamento.
4 – Ajudar as mães a iniciar o aleitamento na primeira meia hora após o nascimento.
5 – Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos.
6 – Não dar a recém – nascidos nenhum outro alimento ou bebida além do Leite Materno, a não ser que tal procedimento seja indicado pelo médico.
7 – Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e bebês permaneçam juntos – 24 horas por dia.
8 – Encorajar o aleitamento sob livre demanda.
9 – Não dar bicos artificiais ou chupetas a lactentes amamentados ao seio.
10- Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio ao aleitamento, para onde as mães deverão ser encaminhadas, por ocasião da alta do hospital ou ambulatório.
(*) “Proteção, Promoção e Apoio ao Aleitamento Materno – o papel especial dos serviços materno-infantis”. Uma declaração conjunta OMS/UNICEF 1989.
REFERÊNCIAS
– Aumonier, ME & Cunninghan, CC: “Breast feeding in infants with Downs´s Syndrome” Breastfeeding review nº 8 May, 1986.
– LLLI: “Down syndrome” The breastfeeding answer book, November, 1994.
– MacBride MC, Danner SC: “Sucking disorders in neurologically impaired infants: assessment and facilitation of breastfeeding”. Clin Perinatol 14:109, 1987.
– Lawrence, RA: “Breastfeeding the infant with a problem” in the BF: a guide for the medical profession. Mosby-Year book, 4th ed. 1994.
– Valdés, V; Sánchez, AP & Labbok, M – “Manejo clínico da lactação – assistência à nutriz e ao lactente” Ed. Revinter, RJ, 1996.
Leia também o artigo da Dra. Léa Amábile sobre este tema publicado neste site – www.aleitamento.com