Facebook altera regras para permitir
fotos de mães amamentando
Campanha on-line #FreeTheNipple
pedia fim do bloqueio dessas imagens.
Bloqueadas, imagens eram enquadradas como ‘nudez e pornografia’.
Do G1, em São Paulo + O Globo POR MARINA COHEN / RAPHAEL KAPA
RIO – Nem toda nudez será proibida. Após uma série de polêmicas e debates sobre o direito de a mulher de exibir seus seios nas ruas e nas redes, o Facebook flexibilizou suas normas, e imagens antes consideradas obscenas não são mais excluídas. Há cerca de duas semanas, a rede social acrescentou em sua política de uso um trecho que diz:
“Concordamos que a amamentação é algo natural e bonito. Ficamos contentes em saber que é importante para as mães compartilharem suas experiências.”
A mudança não foi noticiada oficialmente, mas blogueiras e militantes chamaram a atenção para a nova diretriz. Para especialistas, trata-se de uma adequação à realidade dos protestos na sociedade, tanto no exterior quanto no Brasil, em favor do topless e da amamentação.
A americana Paala Secor postou uma foto comemorativa em que aparece amamentando seu bebê:
“Estamos orgulhosas de nutrir nossos bebês com nossos seios e não ficaremos envergonhadas disso”.
Menos de um dia depois, no entanto, o Facebook suspendeu sua página e a notificou sobre sua eventual exclusão da rede. Mais tarde, porém, ela recebeu um pedido de desculpas do site em que um membro da equipe admitiu que a página havia sido “acidentalmente” removida. A foto foi restabelecida.
· Facebook muda regras e permite imagens de amamentação
— As fotos são removidas do Facebook após denúncias dos próprios usuários, que são avaliadas por moderadores — afirma a diretora de Comunicação do Facebook Brasil, Camila Fusco.
Por depender da avaliação caso a caso, as políticas de nudez das redes sociais acabam sendo aplicadas de maneira irregular. A produtora cultural Mira Barros, de 26 anos, e sua filha Nina, de 6 meses, protagonizam fotos tocantes, tiradas pelo pai, Vinícius Gonçalves Melo, durante a amamentação, e nenhuma delas foi removida. Na vida real, mãe e filha também não costumam sofrer represálias.
— Teve uma única vez em que um homem fez um comentário sexual com o Vinícius, mas nem demos atenção. Para mim, expor os seios na hora da amamentação é algo tão natural que nem passa pela minha cabeça cobri-los — conta Mira. — Não estou ali exibindo nada. É um ato fisiológico. Se meu bebê está com fome, não penso duas vezes.
Protesto virtual
Há pouco mais de um mês, algumas participantes do ato “Mamaço Virtual” tiveram suas imagens de amamentação retiradas da rede. Segundo a atriz e produtora Ana Rios, organizadora de outra manifestação, o “toplessaço”, que ocorreu ano passado na Praia de Ipanema, foram mais de oito mil fotos publicadas e “algumas” remoções.
— É um absurdo que os seios de uma mulher sejam sempre vistos como objeto sexual ou ainda como algo desrespeitoso — argumenta Ana Rios. — O corpo feminino não precisa estar no lugar do erótico o tempo todo. Os seios também são uma forma de alimentar um bebê e uma parte do nosso corpo, que deveríamos ter o direito de mostrar sem desconforto.
Conhecida como “a musa do toplessaço”, a cineasta Ana Paula Nogueira já teve sua página pessoal retirada do ar quatro vezes por violar as políticas de nudez do Facebook. Para ela, grande parte da confusão que se instaura quando uma mulher deixa seus seios à mostra se deve à falta de um posicionamento claro, tanto do governo quanto da direção de sites como o Facebook.
— Em 2000, por exemplo, o então secretário de Segurança Pública do Rio disse que seria publicada no “Diário Oficial” uma portaria autorizando o topless nas praias do estado, mas isso nunca aconteceu — diz Ana Paula.
Para a cineasta, tudo é uma grande hipocrisia.
— Enquanto as mulheres andam na praia de fio dental, os homens vivem sem camisa. E no carnaval tudo é permitido. Seria natural que as mulheres pudessem circular de topless — opina.
Ilegalidade nos EUA
Hoje, em 35 estados americanos é ilegal expor os seios, mesmo que seja para a amamentação. Nos menos tolerantes, como Louisiana, um mamilo exposto pode levar uma mulher a cumprir pena de até três anos na cadeia e pagar US$ 2.500 de multa. Mas o movimento “Free The Nipple” (liberte o mamilo) está tentando mudar o cenário com uma campanha na internet e um filme de 80 minutos que acompanha as ações de duas militantes em que pregam o topless na ruas de Nova York. O único obstáculo que impede o lançamento do filme no país é sua classificação etária para maiores de 17 anos.
— Estamos lutando para baixar essa classificação. Ela é aplicada a obras com cenas de sexo explícito, e o nosso filme não tem uma sequencia sequer de sexo — diz a diretora do média-metragem, a americana Lina Esco, contando que cresceu em um lar católico onde aprendeu a ter vergonha de seu corpo. — Eu era tão tímida com o meu corpo que, quando conheci algumas mulheres acostumadas a exibir os seus, não conseguia entender por que eu não era livre como elas. Foi aí que me interessei pelo assunto e resolvi fazer o filme.
A mudança de paradigma do Facebook chega no momento em que uma outra rede social, o Instagram, passa a ser alvo de críticas por deletar fotos que apresentam seios femininos. A cantora Rihanna e a filha de Bruce Willis e Demi Moore, Scout Willis, já tiveram postagens suas apagadas da rede social. Chateada com a atitude, a estrela de Barbados encerrou sua conta na rede de compartilhamentos de fotos. Já Scout Willis tomou uma atitude diferente. Após ter sua conta no Instagram bloqueada por postar uma foto em que aparecia com duas amigas fazendo topless, ela protestou publicando uma foto com os seios à mostra enquanto andava pelas ruas. A legenda dizia: “Permitido em Nova York, mas não no Instagram”.
— Mentalidades mudam quando pessoas vão na frente, ousando, trazendo novos comportamentos. Está na hora de perceber o corpo nu não como algo pecaminoso — afirma a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, que lembra o pioneirismo de Leila Diniz — Quando ela estava grávida e desfilou de biquíni na praia de Ipanema, foi xingada com as piores palavras. Hoje, é absolutamente natural.
Foto: A produtora cultural Mira Barros, de 26 anos, defende a amamentação em público: “se a minha filha estiver com fome, não vou pensar duas vezes” – Adriana Lorete
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