MÃE de CORPO & ALMA
SER MÃE DIREITO ADQUIRIDO OU CONQUISTADO ?
Pensando no conteúdo do artigo a ser escrito, me deparei com várias possibilidades, mas nenhuma delas me atraía. Falar sobre a importância do aleitamento materno, falar sobre as características do leite materno e suas propriedades, falar sobre a influência do aleitamento materno na vida da mãe, do bebê e de sua família, em como o crescimento é melhor, a imunidade, a diminuição de doenças, enfim, uma infinidade de tópicos pertinentes ao tema. Definitivamente nenhum deles me atraía.
Iniciei, então, uma busca interior sobre o que mais me inquietava quando o assunto se referia ao aleitamento materno e parto normal e refleti sobre uma palavra que sempre falamos em cursos, cartazes, textos – É SEU DIREITO, É DIREITO DO SEU BEBÊ. Tendo esta consciência, principalmente agora que estamos próximos ao dia das mães, decidi escrever sobre esse “DIREITO”.
Organizações não Governamentais, Grupos de Estudo, Universidades, o próprio Ministério da Saúde e, confesso, eu mesma como pediatra e apologista do aleitamento materno e da permanência da mãe e bebê juntos, com os familiares próximos, utilizam todos os recursos disponíveis como metodologia Canguru, humanização do parto, humanização em UTIs, alojamento conjunto, casas de parto, enfim, tudo para trazer de volta à mãe e à sua família, o empoderamento e a possibilidade de cuidar de seu filho, com pessoas de sua confiança ao seu redor. Aí me pergunto, são direitos que devem ser dados às mães e seus bebês ou direitos inerentes aquela família, àquele nascimento?
Quantas vezes, em visita ao alojamento conjunto, me deparo escutando: aqui vocês tem o direito de ficar com seus filhos o tempo todo, mas o pais só entram no horário de visita e os irmãos não podem vir porque é norma do hospital. Na sala de parto, observo que o parto, momento de extrema tensão e importância para aquela família, nem sempre é conduzido como tal. Devemos lembrar que o que está acontecendo é um nascimento, importante e único para aquela mulher que, definitivamente está se tornando mãe. Não importa o tipo de parto, ele é único. Porque então, enchemos de regras e tiramos a confiança das mães em cuidar de seus filhos?. Como podemos garantir um direito que as mulheres não tomaram para si ainda, pois acham que o trabalho, a necessidade financeira, os outros filhos, a casa, o marido, a vida social, tudo vem em primeiro lugar?.
Estar grávida altera a rotina de uma família, mas a grande modificação ocorre após o nascimento e, principalmente, se esta mulher estiver amamentando. A chegada do filho não é limitante, mas amamentar, educar, cuidar sim. Esse ato, segundo relatos, toma tempo, a mãe tem que ficar disponível para o bebê, o peito vai cair, a estética fala mais alto – (e pasmem, isto é importante em todas as classes sociais), tudo é mais importante que a saúde do bebê. As mães querem bebes quietos, para que possam dormir a noite, que não mamem muito para que o tempo seja para realizar as tarefas necessárias, que não fiquem doentes, ou se ficarem, que sarem logo, de preferência em 24 horas para que os planos não sejam atrapalhados.
Quando será que as mulheres, enfim, vão empunhar peitos para uma nova REVOLUÇÃO, onde ao invés de queimarem sutiãs em praça pública ou usarem pílulas, vão exigir horários de trabalho flexíveis para poder cuidar de seus filhos e amamentá-los. Quando vão dizer às pessoas que elas querem ser mães e também profissionais. Que elas querem ter direito a decidir o melhor para seus filhos, não deixando a alimentação e educação para outrem?.
Como vamos querer uma sociedade melhor, com pessoas respeitáveis e respeitadoras, saudáveis, se estamos alimentando uma sociedade baseada em “fast foods”, insegura, impaciente, consumista?.
Tudo hoje tem que ser rápido e em horários onde a mãe pode acompanhar a criança.
Entendo que as todas as mulheres – mães, avós, futuras mães, as que decidiram por não serem mães, enfim todas nós deveríamos fazer uma reflexão sobre quais direitos gostaríamos de conquistar.
Toda criança tem o direito de ser amada, alimentada, brincar e ser feliz. Toda mãe tem o direito de escolher o melhor para seu filho, começando no dia em que fica sabendo da gravidez. Pensem e busquem conhecimento real, reflitam, discutam com pessoas amigas, profissionais de saúde. Fortaleçam-se e sejam mães de corpo e alma.
Dra. Soraia Drago Menconi é Pediatra e Neonatologista
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