
A mama autodestrói-se quando a nutriz
para de amamentar totalmente
Fonte: visao.sapo.pt
Os cientistas descobriram uma molécula que leva as células mamárias a “comerem” aquelas que morrem assim que a mulher deixar de amamentar definitivamente.
Em poucos dias, a mama de uma mulher deixa de se assemelhar a uma fábrica de produção de leite para retomar a sua composição original. De acordo com as descobertas feitas por uma equipa de investigadores da Universidade de Sydney, na Austrália, e publicada no Development Cell, existe uma mudança molecular que controla a transformação das células secretoras de leite em células que comem as vizinhas que estão a morrer. Com esta descoberta, os cientistas acreditam ter encontrado novas pistas na tentativa de perceber o que corre mal no câncer da mama.
Durante a gravidez, o corpo envia sinais hormonais que criam células epiteliais que revestem os canais e que formam estruturas chamadas alvéolos, onde se “armazena” o leite quando o bebé nasce. Assim que para de amamentar, estas estruturas autodestroem-se e as células removem as que pararam de produzir leite, sem afetar o sistema imunitário das mulheres.
As células imunitárias do corpo habitualmente removem as células mortas só que o material consumido é tanto que costuma originar uma inflamação, dor e danos nos tecidos. Mas, nos casos em que a mulher cessa a amamentação, isso não costuma acontecer. Nashreen Akhtar e a equipe de investigadores de Sydney procuram agora conhecer melhor este processo para conseguirem compreender de que forma o câncer da mama se desenvolve e progride. Os cientistas querem perceber se existe alguma relação com a presença da proteína Rac1, responsável pela produção de leite, e que permanece no organismo durante este processo de autodestruição.
Há muito que os investigadores procuram conhecer melhor a relação entre a amamentação e o câncer de mama. A amamentação prolongada é considerada como uma forma de reduzir o risco de contrair câncer mamário.
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Amamentação – bases científicas, 4ª. edição capítulo
“Anatomia e Fisiologia da Lactação”.
Após a amamentação, com a estase do leite e a queda hormonal (hormônios esteroides, progesterona, prolactina), a mama tende a voltar ao seu estágio anterior à gestação. Esta involução mamária envolve remodelação da matriz extracelular (MEC) e perda de células. A remodelação da MEC é dependente da ação de enzimas proteolíticas produzidas localmente. A degradação da MEC altera a interação do epitélio glandular e da matriz extracelular adjacente e atua no mecanismo de involução glandular. A diminuição do número de células ocorre através de apoptose, um fenômeno de morte celular programada dependente de fatores intracelulares e da interação célula/meio externo.
Em resumo, as células alveolares (produtoras de leite) são removidas por meio de apoptose, sendo rapidamente fagocitadas por macrófagos sem que haja resposta inflamatória, isto é, sem dor, calor, rubor ou tumor.