Eficácia do apoio à amamentação fornecido por pediatras treinados durante uma consulta antecipada, rotineira e preventiva: Um estudo prospectivo, randomizado e aberto de 226 pares – mãe e filhos.
Antecedentes: Apesar da evidência, cada vez maior, dos benefícios da amamentação prolongada tanto para a saúde da mãe quanto para a saúde do lactente, a prevalência de amamentação na faixa etária de 6 meses está abaixo da meta da “Healthy People” de 2010. O maior decréscimo da taxa de amamentação ocorre durante as 4 primeiras semanas pós-parto. Mães que interrompem a amamentação precocemente costumam relatar mais freqüentemente, falta de confiança na sua habilidade de amamentar, problemas com a pega e sucção do bebê, e falta de encorajamento individualizado dos clínicos no período de pós-parto precoce.Estudos sugeriram que os cuidados primários dos médicos podem aumentar as taxas de amamentação através de aconselhamento e práticas específicas durante a rotina de visita preventiva. Entretanto, faltam mais evidências científicas baseadas em testes controlados e ao acaso.
Objetivo: O propósito desse estudo é determinar se a realização de visitas antecipadas, rotineiras, e preventivas nos consultórios de atenção primária dos pacientes de alta hospitalar aumentam a prevalência da amamentação.
Desenho do estudo: O estudo foi um teste aberto, prospectivo, randomizado, de caso-controle.
Situação: Participantes foram recrutadas em uma maternidade de nível 3 de complexidade instalada, com uma média de 2000 nascimentos por ano, na França.
Participantes: Um total de 231 mães que deram à luz um filho saudável e único (idade gestacional: 37 semanas completas) e amamentaram no dia do parto foram recrutadas e randomizadas (116 no grupo de intervenção e 115 no grupo controle) entre 1º de outubro de 2001, e 31 de maio de 2002; 226 pares de mãe e filho (112 no grupo de intervenção e 114 no grupo controle) contribuíram para os resultados.
Intervenção: O suporte à amamentação no grupo controle incluiu o encorajamento verbal usual fornecido pela equipe de enfermeiras da maternidade, avaliação geral de saúde e uma avaliação para evidências de uma amamentação bem sucedida feita pelo trabalho de pediatras no departamento de obstetrícia no dia do parto, fornecimento de um número de telefone de um grupo de apoio específico e capacitado, visita obrigatória, rotineira, e preventiva do primeiro ao sexto mês do lactente, e 10 semanas de licença materna (prolongadas para 18 semanas depois do nascimento do terceiro filho). Além do apoio pré e pós-parto usual, as mães do grupo de intervenção foram convidadas a visitas individuais, rotineiras, e preventivas no trabalho de 1 dos 17 médicos de atenção primária participantes (pediatras ou médicos da família) por 2 semanas após o nascimento do bebê. Os médicos participantes receberam um programa de treinamento de 5 horas em aleitamento materno, feito em 2 partes em um mês, antes do começo do estudo.
Parâmetros para medir os resultados: O primeiro resultado foi a prevalência da amamentação exclusiva reportada durante 4 semanas (definida como única fonte de alimentação o leite materno, sem quaisquer outras comidas, líquidos, vitaminas ou medicamentos administrados). O segundo resultado incluía qualquer forma de amamentação reportada durante as 4 semanas, duração da mamada, dificuldades com a amamentação, e satisfação com a experiência de amamentar. A classificação dentro das categorias de amamentação reportadas nas 4 semanas foram baseadas em um inquérito recordatório de 24 horas.
Resultados: 92 mães (79.3%) pertencentes ao grupo de intervenção e 8 mães (7.0%) pertencentes ao grupo controle reportaram que atenderam às visitas rotineiras e preventivas no trabalho de 1 dos 17 médicos de atenção primária participantes do estudo. Mães no grupo de intervenção reportaram mais freqüentemente a amamentação exclusivas nas 4 semanas (83.9% vs 71.9%; hazard ratio: 1.17;95% intervalo de confiança [CI]: 1.01-1.34) e duração longa de amamentação(média: 18 semanas vs 13 semanas; hazard ratio: 1.40;95% CI: 1.03-1.92). Elas reportaram menos freqüentemente dificuldades (55.3% vs 72.8%; hazard ratio:0.76;95% CI: 0.62-0.93). Não houve diferença significante entre os 2 grupos a respeito da taxa de qualquer amamentação nas 4 semanas (89.3% vs 81.6%; hazard ratio:1.09; 95%CI: 0.98-1.22) e na taxa de mães razoavelmente ou muito satisfeitas com sua experiência em amamentar (91.1% vs 87.7%; hazard ratio: 1.04;95%CI: 0.95-1.14)
Conclusões:
Apesar de não podermos excluir a possibilidade de esses resultados diferirem em outros sistemas de saúde, o estudo fornece evidências primárias da eficácia do suporte à amamentação durante uma visita rotineira, antecipada e preventiva no trabalho dos médicos treinados de atenção primária. Nossas descobertas também sugerem que um curto programa de treinamento para prática de médicos pode contribuir para o aumento dos resultados da amamentação. Intervenções abrangentes que almejam dar suporte à amamentação devem envolver médicos de atenção primária.
Jose Labarere, MD, Nathalie Gelbert-Baudino, MD, Anne-Sophie Ayral, MD, Cathy Duc, MD, Martine Berchotteau, MD, Nathalie Bouchon, MD, Camille Schelstraete, MD, Jean-Philippe Vittoz, MSc, Patrice Francois, MD, PhD, and Jean-Claude Pons, MD, Phd
Departments of Pediatrics, Obstetrics, Gynecology, and Reproductive Medicine, Grenoble University Hospital, Grenoble, France
Key Words: breastfeeding-counseling-primary care physicians-randomized-controlled trial
PEDIATRICS Vol. 115 No. 2 February 2005, pp. e 139 –e 146
Este artigo foi traduzido pela estudante Fernanda Chuva da Faculdade de Medicina – UFRJ – 3º período, como uma das atividades da disciplina PINC – Programa de Iniciação Científica, sob supervisão do Prof. Marcus Renato de Carvalho