Acalanto. Ato de acalentar.
Cantiga para adormecer criança;
cantiga de ninar. Afago, carinho.
Novo Aurélio.
Terror Noturno. Um estágio muito peculiar do sono, entre este e a vigília, podendo durar até meia hora. Os olhos da criança estarão abertos e a fala inteligível. Apesar de aterrorizante para os pais, as crianças não se lembram do que aconteceu. Ele passa com o tempo, fazendo parte das mudanças nos padrões de sono durante o desenvolvimento, e não é provocado por experiências traumáticas durante o dia ou por negligência dos pais.
Dentre as mas profundas manifestações da música junto ao ser humano, ressalta-se o acalanto.
Este gênero musical exerce, sobre a criança que está sendo embalada, duas funções que se completam: transmitir segurança e hipnotizar. Lento, e não raro com melodia repetida, ele vai fazendo com que a criança se descontraia até adormecer.
Há aqui uma circunstância que merece nossa reflexão: as letras dos acalantos brasileiros. Se levadas a sério pela criança, elas acarretariam não o sono, mas o desmaio. Se não vejamos:
…
Boi, boi, boi, boi da cara preta,
Pega essa criança que tem medo de careta…
…
Tatu marambá, não venhas mais cá,
Que o pai do menino te manda matá…
No entanto, apesar do caráter aterrorizante destas letras, a criança tranqüiliza-se e adormece. Como explicar esta anomalia ?
Para o psicanalista Jeremias Ferraz, o acalanto atua como uma espécie de psicoterapia para a criança.
Conforme se sabe, esta vive terrores noturnos que atuam sob a forma de pesadelos. A mãe, ou quem quer que a acalante, cantando letras que falam sobre fantasmas da noite, faz emergirem esses fantasmas do próprio inconsciente da criança. As melodias tornam-se então, elementos cicatrizantes, aliviando a criança e garantindo-lhe um sono tranqüilo. Aparentemente essa teoria não explica o mesmo efeito exercido pelos acalantos sobre os recém-nascidos. Não esqueçamos, nós espíritas, no entanto, que recém-nascidos ou não, a criança é um espírito encarnado, passível, portanto, de sofrer inúmeras influências, inclusive a do acalanto.
Recordemos, igualmente, que o acalanto é acompanhado pelo balanço cadenciado do corpo de quem acalenta. Além disso, o pai, a mãe ou qualquer outra pessoa, ao acalentar, transmite à criança o calor aconchegante de seu colo, o que, por si só, já garante ao bebê a segurança de que ele necessita.
Luiz Antonio Milleco
Psicólogo, Musicoterapeuta. Este é um dos capítulos do seu recém lançado livro “Música & Espiritismo” com prefácio do Quarteto em Cy, incluindo um CD. Uma publicação Lachâtre, Niterói, RJ, 2002