Quando pensamos sobre a construção da saúde de um indivíduo, nosso olhar não pode se limitar ao momento do nascimento e o que vem depois. É preciso voltar ao instante da concepção e o período que o antecedeu, porque, sim, a saúde dos progenitores influencia a saúde futura da sua prole.
Gabrielle Gimenez*
Graças ao avanço das pesquisas científicas, sabemos, mais do que nunca, que o começo da vida importa e muito, e que trabalhar a saúde a partir da prevenção é a melhor maneira de proporcionar ao ser humano a chance de desenvolver todo o seu potencial.
Há então urgência em resgatar as boas práticas de puericultura, que têm sido deixadas de lado em meio à mecanização da atenção clínica dos nossos dias. O cuidado que um bebê precisa receber para que o seu desenvolvimento seja saudável, do ponto de vista fisiológico, psicológico e social, vai muito além de medir em uma consulta quanto cresceu e engordou no mês.
A Puericultura, em sentido amplo, deve ser praticada de forma transdisciplinar desde o período pré-concepcional, passando pelo pré-natal, a atenção ao parto e ao nascimento, e assim por diante. Todo profissional que atende ao público materno-infantil deve ter essa mirada, já que a saúde futura e sua repercussão na qualidade de vida é construída especialmente dentro desta janela de tempo dos primeiros 1100 dias.
Não é possível cuidar da saúde infantil sem avaliar o todo. Simplesmente tratar os sintomas, sem realizar uma investigação adequada das causas é como tentar tapar o sol com a peneira. A saúde também é muito mais que ausência de doenças. E, nesse sentido, as boas práticas de Puericultura podem fazer muito pelo bem-estar físico, mental e social do indivíduo.
Também não podemos pensar a Puericultura e a construção da saúde separadas da amamentação. A pouca atenção que os profissionais da saúde dão ao tema e o pouco preparo que possuem para o seu manejo correto e orientação adequada às famílias é preocupante.
Em seu artigo “Amamentação no século XXI: epidemiologia, mecanismos e efeitos em longo prazo”, Victora et al. (2016), alertam para o fato de que essa negligência à amamentação na prática médica e a suposição de que o leite materno pode ser substituído por produtos artificiais, não está livre de consequências prejudiciais. E o fazem com base nos resultados de estudos imunológicos, epigenéticos, microbiômicos e com células-tronco que mostram como a amamentação pode melhorar os desfechos na saúde dos dois indivíduos que estão envolvidos: a mãe e a criança.
A amamentação é importante não só do ponto de vista da prevenção da morbimortalidade infantil, pois seus desfechos epigenéticos impactam tanto no crescimento e desenvolvimento infantil como na sua saúde na vida adulta, podendo influenciar as seguintes gerações. Sem falar na melhoria do capital humano por meio do aumento da inteligência, e repercussão positiva na saúde emocional e social, pelo vínculo de apego, também mediados pela amamentação.
Fica mais do que evidente que a amamentação e a puericultura precisam andar de mãos dadas e, para que isso seja uma realidade no presente, é preciso começar o cuidado com a saúde o quanto antes, levando em conta a importância dos primeiros 1100 dias desde o dia 0.
* Gabrielle @gabicbs é Puericultora, mãe de três, editora especial do portal aleitamento.com e autora do livro “Leite Fraco? – Guia prático para uma amamentação sem mitos”.