Aleitamento

Carregando Eventos

« Todos Eventos

  • Este evento já passou.

II Oficina de Introdução à Prática do ACONSELHAMENTO na AMAMENTAÇÃO

1 de janeiro de 1970 @ 00:00

&nbsp,Essa II Oficina ser&aacute, exclusiva – grupo fechado

&nbsp,

Se eu fosse voc&ecirc,

&nbsp,

&nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp, &nbsp,O que as pessoas mais desejam &eacute, algu&eacute,m que as escute de maneira calma e tranquila. Em sil&ecirc,ncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: &quot,Se eu fosse voc&ecirc,&quot,.

&nbsp,

A gente ama n&atilde,o &eacute, a pessoa que fala bonito. &Eacute, a pessoa que escuta bonito. A fala s&oacute, &eacute, bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. &Eacute, na escuta que o amor come&ccedil,a. E &eacute, na n&atilde,o-escuta que ele termina.

&nbsp,

N&atilde,o aprendi isso nos livros. Aprendi prestando aten&ccedil,&atilde,o. Todos reunidos alegremente no restaurante: pai, m&atilde,e, filhos, falat&oacute,rio alegre. Na cabeceira, a av&oacute,,

com sua cabe&ccedil,a branca. Silenciosa. Como se n&atilde,o existisse. N&atilde,o &eacute, por n&atilde,o ter o que dizer que n&atilde,o falava. N&atilde,o falava por n&atilde,o ter quem quisesse ouvir. O sil&ecirc,ncio dos velhos.

&nbsp,

No tempo de Freud as pessoas procuravam os terapeutas para se curarem da dor das repress&otilde,es sexuais. Aprendi que hoje as pessoas procuram os terapeutas por causa da dor de n&atilde,o haver quem as escute. N&atilde,o pedem para ser curadas de alguma doen&ccedil,a. Pedem para ser escutadas. Querem a cura para a dor da solid&atilde,o.

&nbsp,

Acho bonito o tao&iacute,smo, filosofia oriental.

Para saber como ele &eacute, basta ler os poemas de Alberto Caeiro. O tao&iacute,smo &eacute, um jeito de olhar para o mundo. S&atilde,o muitos os jeitos de olhar para o mundo. Cada jeito, cada mundo. O tao&iacute,smo diz que o mundo &eacute, feito de encaixes. Tudo vem aos pares. O que n&atilde,o tem par n&atilde,o existe. Tudo &eacute, macho e f&ecirc,mea: yang, yin. Quando as duas partes do par se encaixam faz &quot,dac&quot, – e a felicidade acontece.

&nbsp,

Para haver encaixe &eacute, preciso que cada parte seja incompleta. Se as partes fossem completas os encaixes n&atilde,o seriam poss&iacute,veis nem necess&aacute,rios. Como num quebra-cabe&ccedil,a. Cada pe&ccedil,a tem de ter um buraco. Esse buraco &eacute, para nele se encaixar um &quot,pleno&quot, da outra pe&ccedil,a. Se tal buraco n&atilde,o existir, o encaixe n&atilde,o pode acontecer. O quebra-cabe&ccedil,a fica frouxo, solto, desmancha.

&nbsp,

Mas n&atilde,o acredite nessa palavra &quot,pleno&quot,, que usei. Usei por falta de outra. &quot,Pleno&quot, sugere algo completo, em que nada falta. Mas a verdade &eacute, outra.

Todo &quot,pleno&quot, &eacute, um buraco visto pelo avesso. Quando o buraco e o pleno se juntam acontece o encaixe.

&nbsp,

(Quem j&aacute, montou quebra-cabe&ccedil,a sabe do prazer quase er&oacute,tico que se sente ao fazer uma pe&ccedil,a se encaixar na outra. Como se fosse uma met&aacute,fora sexual. Confirma&ccedil,&atilde,o do tao&iacute,smo.)

&nbsp,

Viver &eacute, montar um quebra-cabe&ccedil,a. Viver &eacute, procurar encaixes.

Acho que os tao&iacute,stas aprenderam isso observando a boca de um nenenzinho sugando o seio da m&atilde,e. A boca &eacute, um vazio. Sem nada saber ela j&aacute, sabe sobre os

encaixes. Suga o vazio. Seus movimentos r&iacute,tmicos s&atilde,o a primeira forma de ora&ccedil,&atilde,o, sem palavras. Ora&ccedil,&atilde,o &eacute, o vazio que espera. A boca vazia ora pelo &quot,pleno&quot, que a satisfar&aacute,: o seio da m&atilde,e.

Mas o &quot,pleno&quot, do seio da m&atilde,e &eacute, tamb&eacute,m ora&ccedil,&atilde,o: quer uma boca que o sugue. Quando boca e seio se encontram o encaixe acontece. &Eacute, a felicidade. O vazio de um &eacute, o pleno do outro. O vazio de um &eacute, a felicidade do outro.

&nbsp,

Assim &eacute, o amor. A tristeza amorosa &eacute, o vazio desejando o pleno. S&oacute,crates inventou um mito para explicar o amor. Disse que Eros nasceu do casamento entre a &quot,Pobreza&quot, e a &quot,Plenitude&quot,. O amor &eacute, um buraco na alma. Quem ama &eacute, pobre. Falta alguma coisa. Pe&ccedil,a desencaixada do quebra-cabe&ccedil,a. O sentimento amoroso &eacute, a nostalgia pelo peda&ccedil,o que me falta, &quot,peda&ccedil,o arrancado de mim&quot,. Assim s&atilde,o o masculino e o feminino.

&nbsp,

O masculino &eacute, o pleno que ora pelo vazio que o abra&ccedil,ar&aacute,.

O feminino &eacute, o vazio que ora pelo pleno que nele se encaixar&aacute,.

Quando os amantes se abra&ccedil,am e as pe&ccedil,as se interpenetram, os corpos se encaixam, como no quebra-cabe&ccedil,a. Todo ato de amor &eacute, uma realiza&ccedil,&atilde,o ef&ecirc,mera de uma unidade original perdida.

&nbsp,

Assim s&atilde,o o yang e o yin, o pleno e o vazio, o seio e a boca, o masculino e o feminino, a fala e a escuta.

&nbsp,

A fala &eacute, masculina: o pleno, s&ecirc,men, semente, penetra&ccedil,&atilde,o (podere, em latim, quer dizer cavar), ejacula&ccedil,&atilde,o. Segundo o Aur&eacute,lio, essa palavra, ejacula&ccedil,&atilde,o, que &eacute, usada normalmente para designar o jato de esperma, significa tamb&eacute,m &quot,proferir, dizer em voz alta&quot,. Ejacular esperma e falar s&atilde,o a mesma coisa.

&nbsp,

O ouvir &eacute, feminino. O p&ecirc,nis ereto &eacute, uma pobreza. &Eacute, uma s&uacute,plica, uma ora&ccedil,&atilde,o por uma vagina que o acolha. A semente, para germinar, precisa de um buraco na terra que a acolha. A fala &eacute, pobre, falta. Procura o vazio do ouvido. A ejacula&ccedil,&atilde,o da fala, masculina, acontece num momento. Mas a germina&ccedil,&atilde,o da escuta, feminina, demanda tempo e sil&ecirc,ncio.

&nbsp,

Para ouvir n&atilde,o basta ter ouvidos. &Eacute, preciso parar de ter boca. S&aacute,bia, a express&atilde,o: &quot,Sou todo ouvidos&quot,.

Todo ouvidos, deixei de ter boca. Minha fun&ccedil,&atilde,o falante, masculina, foi desligada. N&atilde,o digo nada. Nem para mim mesmo. Se eu dissesse algo para mim mesmo enquanto voc&ecirc, fala seria como se eu come&ccedil,asse a assobiar no meio de um concerto.

&nbsp,

Fa&ccedil,o, para ouvir voc&ecirc,, o mesmo sil&ecirc,ncio que fa&ccedil,o para ouvir m&uacute,sica.

Vou agora lhe revelar o segredo da escuta.

Quando era iniciante na arte da psican&aacute,lise tratava de prestar a maior aten&ccedil,&atilde,o naquilo que o cliente me estava dizendo. Levou tempo para que eu percebesse que quem presta muita aten&ccedil,&atilde,o no que &eacute, dito n&atilde,o consegue escutar o essencial. O essencial se encontra fora das palavras.

&nbsp,

Fernando Pessoa, essa distra&ccedil,&atilde,o dos deuses, sabia disso e escreveu. Est&aacute, num poema que ele dirigiu a um poeta.

O poeta &eacute, um falador. Constr&oacute,i objetos com palavras. A esse poeta, cujo neg&oacute,cio &eacute, falar, ele diz:

&nbsp,

Cessa o teu canto.

Cessa, porque enquanto o ou&ccedil,o,

ouve a uma outra voz como que vindo

nos interst&iacute,cios do brando encanto

com que o teu canto vinha at&eacute, n&oacute,s.

Ouvi-te e ouvi-a

No mesmo tempo

E diferentes

Juntas a cantar.

E a melodia

Que n&atilde,o havia

Se agora a lembro, Faz-me chorar.

&nbsp,

Preste aten&ccedil,&atilde,o no que est&aacute, escrito. Fernando Pessoa diz que a fala tem duas partes. A primeira s&atilde,o as palavras que s&atilde,o ditas: a letra. A segunda &eacute, uma melodia que se faz ouvir nos interst&iacute,cios da fala: a m&uacute,sica. A letra &eacute, coisa do consciente, cerebral. A m&uacute,sica &eacute, coisa do corpo, inconsciente. Aquilo a que a psican&aacute,lise d&aacute, o nome de inconsciente &eacute, a m&uacute,sica do corpo. Quem diz a letra n&atilde,o percebe que est&aacute, cantando.

&nbsp,

Tem havido tentativas de produzir uma fala que seja s&oacute, letra, sem a m&uacute,sica. A ci&ecirc,ncia e a filosofia t&ecirc,m se esfor&ccedil,ado por esse ideal – uma fala da qual o corpo

do que fala esteja ausente. Fala sem alma, s&oacute, informa&ccedil,&atilde,o. A voz met&aacute,lica, mon&oacute,tona, indiferente, de rob&ocirc,, dos servi&ccedil,os de alto-falantes dos aeroportos &eacute,

uma express&atilde,o sens&iacute,vel desse ideal desumano. Voc&ecirc, poderia imaginar um di&aacute,logo de amor com essa fala?

N&atilde,o existe voz humana que n&atilde,o tenha m&uacute,sica.

&nbsp,

A&iacute, Fernando Pessoa diz que a letra n&atilde,o tem import&acirc,ncia. N&atilde,o &eacute, nela que se encontra aquilo que importa escutar. Pede at&eacute, ao poeta que pare de falar porque a fala dele atrapalha ouvir a melodia…

&nbsp,

Esse &eacute, o absurdo segredo da escuta: &eacute, preciso n&atilde,o escutar o que se diz para se poder ouvir o que ficou n&atilde,o-dito, a m&uacute,sica. &Eacute, na m&uacute,sica que mora a verdade daquele que fala.

&nbsp,

Assim, se voc&ecirc, quiser ouvir bem, n&atilde,o preste muita aten&ccedil,&atilde,o na letra. Esque&ccedil,a as li&ccedil,&otilde,es da hermen&ecirc,utica, a ci&ecirc,ncia da interpreta&ccedil,&atilde,o dos sentidos. Aprenda a sentir a m&uacute,sica. Todos os tipos de m&uacute,sica, do tam-tam dos tambores a Boulez. Porque o que os compositores fizeram foi s&oacute, fazer tocar em instrumentos aquilo que era tocado pelo corpo. Parafraseando Uexk&uuml,ll:

&quot,Todo corpo &eacute, uma melodia que se toca.&quot, Seria bom se, nos cursos de psicologia, se lesse menos livros e se ouvisse mais m&uacute,sica.

&nbsp,

&nbsp,

Fonte: livro do querido Mestre Rubem Alves &ndash, &ldquo,O Amor que acende a lua&rdquo,&nbsp,

Comentários do Facebook

Detalhes

Data:
1 de janeiro de 1970
Hora:
00:00